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Resgate de submarino desaparecido em expedição ao Titanic é missão impossível, dizem especialistas

Resgatar os cinco tripulantes do submersível Titan, que desapareceu no Oceano Atlântico enquanto se dirigia para explorar os destroços do Titanic, no domingo, a quase 4 mil metros de profundidade, “não é uma missão impossível, mas é uma das mais complexas para qualquer Marinha do mundo”, afirmou ao GLOBO o capitão de Mar e Guerra Luiz Eduardo Cetrim Maciel, comandante da Base Almirante Castro e Silva da Marinha do Brasil. Segundo o especialista, a capacidade para içar a pequena embarcação existe, mas pode não haver tempo hábil para deslocá-la até a superfície do local do acidente — que ainda não foi identificado — à medida que o estoque de 96 horas de oxigênio do minissubmarino vai se esgotando.

— O grande desafio é a duração do oxigênio — afirmou Cetrim. — Não adianta a Marinha americana deslocar uma unidade [de resgate] se eles não sabem a localização [do submarino]. Se ele sofreu uma avaria, mas não tiver pousado no fundo do oceano, ele está sofrendo influência da corrente marítima, ou seja, mudando de posição. Isso significa que a cada dia que passa, a área de busca vai aumentando, o que torna o desafio ainda maior.

O Titan mede em torno de 6,7 metros de comprimento, pesa mais de 10 toneladas e tem capacidade para cinco pessoas, segundo informações da OceanGate, a empresa fabricante. É, portanto, considerado um veículo de pequeno porte — submarinos da Classe Tupi utilizados pela Marinha do Brasil, por exemplo, pesam em torno de 1.400 toneladas.

— A tecnologia para içar um submersível desse tamanho existe, mas não sabemos até que ponto a Guarda Costeira conseguiria deslocá-la a tempo de cumprir o intervalo que o oxigênio permite aos tripulantes permanecerem vivos debaixo d’água — acrescentou Cetrim. — É preciso considerar a profundidade e o tempo que se leva para posicionar uma plataforma com essa potência. O grau de complexidade é realmente grande.

Pressão insuportável

Caso o Titan seja localizado, as equipes de busca passarão para a fase de salvamento, que envolve a avaliação do estado de saúde dos tripulantes e o controle da atmosfera interna da embarcação. Só então avançariam para o resgate propriamente dito, explica o comandante. Considerando a altíssima profundidade, poderia levar em torno de 2 horas apenas para puxar o submarino para a superfície, além do tempo empregado na descida do resgate e na amarração do submarino avariado, que são difíceis de serem precisados, afirmou.

O engenheiro costeiro David Zee, professor da Faculdade de Oceanografia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), avalia que a pressão do local onde está o Titanic, a cerca de 3.800 metros, é insuportável, chegando a cerca de 380 vezes a da atmosfera no nível do mar, o que inviabiliza totalmente a utilização de mergulhadores na operação, já que mesmo militares treinados operam a no máximo 300 metros, devido ao alto risco de doenças descompressivas, que podem levar à morte.

— Se esse submarino está com problemas de locomoção, está perdido. Ninguém vai conseguir descer até lá para pegá-lo e não há plano B. Nem submarinos nucleares descem a essa profundidade — comentou Zee. — É mais difícil que fazer uma viagem à Lua.

Thayz Guimarães e Davi Ferreira* | O Globo