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Mãe denuncia negligência médica após filha de 7 anos morrer de dengue: ‘Ela é dengosa’

A advogada Camila Isaac, de 37 anos, denuncia negligência médica após a filha mais nova, Pietra Isaac, de 7, morrer por complicações de um quadro de dengue, no dia 17 de novembro. A menina, que recebeu os primeiros atendimentos no Hospital Daher, em Brasília, chegou a ser mandada para casa mesmo se queixando de fortes dores abdominais, segundo a mãe. Ela diz, ainda, ter ouvido de um médico que a filha tinha “dengo”.

Os sintomas de Pietra começaram antes do dia 13 de novembro. A menina recusava comida, apenas bebia água e tinha febre alta, em torno de 39 graus. A mãe chegou a levá-la para realizar um hemograma no dia 13, e decidiu ir ao Hospital Daher no dia 14, onde um primeiro médico a atendeu e solicitou um raio-x de tórax. Na troca de plantão, outra médica assumiu o atendimento, prescreveu remédios para tratamento de virose e bronquite aguda e liberou a criança.

Na manhã do dia 15 de novembro, aniversário da menina, a febre retornou. Pietra, segundo a mãe, se queixava de dor no abdômen e ainda não se alimentava. Camila decidiu, então, voltar com a filha para o Hospital Daher, onde outra médica fez o atendimento. A profissional foi a primeira a cogitar a possibilidade de dengue, alertou a mãe sobre a necessidade de internação da menina e disse que a encaminharia, com um relatório, para o Hospital Materno Infantil de Brasília (HMIB), por não haver internação infantil na unidade.

Enquanto a criança era medicada e passava por novos exames, houve mais uma troca de plantão. Nesse momento, o médico que assumiu o atendimento teria dito a Camila que a filha tinha “dengo”.

— Eu falei: “não é dengo, minha filha é forte, ela está com dor e não come nem bebe há 6 dias”. Falei que ela tinha dor no abdômen, então ele apalpou e falou que ela estava com gases — conta a mãe.

Com o resultado dos exames, foi confirmado o diagnóstico de dengue. O médico, então, teria dito que a menina estava “dengosa duas vezes” e orientou a mãe a levá-la para casa, em vez de manter a orientação de encaminhamento ao HMIB. Camila, então, rebateu o médico, e disse que a criança ainda sentia fortes dores.

— Esse médico falou que dengue se trata em casa, que o remédio é repouso absoluto e hidratar com soro, água de coco e suco. Cheguei a solicitar mais soro e ele me disse que criança só pode tomar 500 ml por dia. Eu não estava ali porque queria, pagando um hospital particular — relata Camila.

Já em casa, o quadro de Pietra se agravou. Segundo Camila, a menina “urrava de dor”. A mãe a levou, então, ao HMIB, onde a menina já chegou com hematêmese — vômito com sangue —, pálida e fraca. Lá, segundo a mãe, a criança recebeu o atendimento adequado. Foi internada na UTI e chegou a ser intubada. No entanto, Camila acredita que era tarde. Pietra já apresentava quadro de infecção generalizada e morreu na tarde do dia 17 de novembro.

A mãe considerou o acolhimento do HMIB mais “humano”, e diz que vai lutar para que outras crianças não passem pela mesma situação de Pietra durante os três dias de idas e vindas em unidades de saúde. O caso foi registrado por ela, e está sendo investigado pela 10ª Delegacia de Polícia, no Lago Sul. Segundo a polícia, diligências estão em andamento.

— O melhor hospital para receber uma criança e o HMIB. Médico, enfermeiros, pessoas humanas. Não largaram a minha filha por nada, uma equipe inteira atenta a tudo. Irei tomar as medidas cabíveis, pois a minha filha viveu 7 anos com um propósito. E eu vou lutar por isso, vou salvar outras vidas. A dengue mata e vai continuar matando muita gente — diz.

O GLOBO procurou o Hospital Daher, mas não teve retorno até a publicação desta reportagem.

‘Doce, pura e acolhedora’

Pietra Isaac era uma criança “doce, pura, acolhedora e cuidadosa”, conta a mãe. Além de ser observadora, a mãe também destaca a inteligência da menina, que, segundo ela, lia tudo o que via nas ruas após ser alfabetizada.

— Uma criança extremamente sadia e inteligente, super vaidosa. Ela não parecia a idade que tinha, sempre muito observadora e conversava como adulta. Personalidade forte, quando ela achava que estava certa ninguém mudava opinião dela — conta Camila: — Amava viver em família, a minha família é grande e tem muita criança, ela sempre foi um doce de menina, a minha galeguinha. Nunca na minha vida imaginei passar por isso. Foi o meu pedaço, me sinto de pernas amputadas, tentando juntar os meus caquinhos.

Em nota, a Secretaria de Saúde do Distrito Federal afirmou que Pietra chegou em estado grave ao Hospital Materno Infantil de Brasília, e precisou ser encaminhada diretamente para a sala amarela, onde passou por procedimentos e exames antes de ser regulada na Unidade de Terapia Intensiva.

A causa da morte, segundo a secretaria, ainda é investigada pelo Comitê de Óbito da unidade. O resultado deve ser divulgado nos próximos dias. A divisão esclarece, ainda, que todas as mortes notificadas por suspeita de dengue tem prazo de investigação de até 60 dias.

“A amostra dessa criança já foi enviada para o Lacen que realizará a análise tanto para dengue, quanto para outras Arboviroses e Painel viral, assim realizando uma análise completa. Até o momento, o DF só teve 01 óbito confirmado por dengue este ano. No mesmo período de 2022 já haviam ocorrido 13 óbitos neste mesmo período”, diz a secretaria.

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