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Finanças: A ilusão da disciplina fiscal já terminou

Finanças: A ilusão da disciplina fiscal já terminou

De tudo o que o governo federal poderia tentar mudar no quadro fiscal proposto por si mesmo em 2023, o dispositivo escolhido para ser arquivado estava precisamente entre as poucas partes realmente meritórias do texto: a principal meta de superávit para o ano de 2025. Apenas sete meses após a aprovação da âncora fiscal pelo Congresso, o Planalto enviou ao Legislativo o projeto de Lei de Diretrizes Orçamentárias (PLDO) de 2025, fornecendo não um superávit de 0,5% do PIB, mas um resultado zero, o mesmo que (ainda) se destina a ser obtido neste ano de 2024.

“Ainda”, porque também este ano a responsabilidade fiscal já está sendo defendida pelo governo, com a cumplicidade do Congresso Nacional. Em um jast incluído no projeto de lei que restaura o DPVAT (o seguro obrigatório pago pelos proprietários de veículos para indenizar as vítimas de acidentes), os parlamentares deram a Lula a chance de antecipar a expansão do limite de gastos em R$ 15 bilhões, com efeito imediato. Em um ano eleitoral, quando as restrições aos gastos públicos aumentam à medida que o dia da eleição chega, essa antecipação é perfeita para que um presidente com popularidade em declínio possa colocar em prática o plano declarado pelo deputado José Guimarães, líder do governo na Câmara, no final do ano passado: “Se você tiver que fazer um déficit, teremos que fazê-lo. Caso contrário, não venceremos a eleição em 2024”.

O que Haddad e Tebet disseram é que, como o dinheiro não entrou e provavelmente nem entrará, a meta é alterada em vez de trabalhar na outra extremidade dos cálculos para tentar atingir a meta proposta e aprovada no ano passado

Em relação a 2025, os ministros da área econômica ofereceram suas justificativas de uma maneira tão franca que um ouvinte desavisado pode nem perceber o absurdo que ambos estão dizendo. “Não é fácil. A medida provisória no final do ano [com aumentos de impostos] foi menos bem recebida do que as medidas do ano passado. É a vida”, lamentou Fernando Haddad, da Fazenda, em uma entrevista a um canal de televisão na segunda-feira. Simone Tebet, da Planning, disse no início de abril que, sendo liberal, “Eu queria manter 0,5% positivo. Vamos colocar receitas e despesas na mesa. Se as receitas não chegarem como esperamos, teremos que discutir novamente a meta de 2025”.

Em outras palavras: como o dinheiro não entrou, e provavelmente nem entrará, o objetivo é alterado em vez de trabalhar na outra extremidade dos cálculos para tentar atingir o objetivo proposto e aprovado no ano passado. O que “é da vida”, quando você gerencia um orçamento e se se depara com a perspectiva de um menor influxo de recursos, é gastar menos para poder fechar as contas. A redução de despesas, no entanto, é algo que aparentemente não passa pela mente dos ministros, nem mesmo do “liberal” Tebet. No máximo, algum pente fino é feito em benefícios para caçar irregularidades; reformas abrangentes e estruturantes para reduzir e otimizar os gastos públicos permanentemente estão absolutamente fora de questão.

Os agentes do mercado financeiro capturaram a mensagem e, na terça-feira, o real teve uma forte desvalorização. É verdade que outros fatores contribuíram, como a instabilidade no Oriente Médio após o ataque de drones iranianos contra Israel e a probabilidade de que a queda nas taxas de juros dos EUA seja adiada. Mas a partir de um pacote de moedas de nações emergentes, o brasileiro teve o terceiro pior desempenho na terça-feira, atrás apenas do peso mexicano e da rupia indonésia, indicando que o contexto interno pesou muito nas decisões dos investidores.

Em um evento nos Estados Unidos, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, também disse o óbvio: a sinalização da falta de controle fiscal torna muito mais difícil o trabalho de continuar a reduzir a taxa Selic, porque impede a chamada “ancoragem das expectativas” da inflação, já que o gasto público é inflacionário. “Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da busca firme dessas metas” é uma frase que a Copom repetiu incessantemente em suas atas e comunicações. Se a indisciplina fiscal impedir o afrouxamento monetário, Lula e o PT poderão chutar à vontade, mas a verdade é que não faltaram avisos de que as consequências seriam inevitáveis.

Gazeta do povo