Já escrevi esse mesmo texto, com outras palavras e outras ênfases, por duas vezes, e em ambas fui massacrado tanto pela direita quanto pela esquerda. Mas, como jornalista e formador de opinião, não me furtarei de dizer aquilo em que acredito: a radicalização é nefasta, venha de onde vier.
Devemos manter o controle de nossas ações e palavras, o equilíbrio e o respeito entre nossos semelhantes. É assim que penso, e não mudarei minha forma de enxergar o mundo. O diferente, seja ele quem for, não é meu inimigo. Se eu sou inimigo dele, o problema é dele.
No fim, a verdadeira força está em reconhecer que a diversidade não nos separa, mas nos enriquece.
Em tempos de polarização acentuada, torna-se imprescindível refletir, com serenidade e responsabilidade, sobre os efeitos do radicalismo na convivência democrática. Qualquer forma de radicalismo, seja à esquerda ou à direita, representa uma ameaça à harmonia social, ao respeito mútuo e ao amadurecimento das instituições republicanas. A democracia, por essência, é construída sobre o diálogo, a pluralidade de ideias e o reconhecimento da legitimidade do outro.
A Direita brasileira, especialmente a vertente conservadora que se identifica com os valores defendidos pelo ex-presidente Jair Messias Bolsonaro, tem legitimidade plena dentro do espectro político nacional. Seus princípios, como o respeito à família, à soberania, à fé cristã e à livre iniciativa, encontram ressonância em milhões de cidadãos que, de forma democrática, optaram por apoiar tais bandeiras. É fundamental que tais valores sejam respeitados, discutidos com seriedade e jamais tratados com escárnio ou desdém por parte de setores que não comungam com essa visão de mundo.
Todavia, quando essa ou qualquer outra corrente ultrapassa os limites da razoabilidade e se converte em extremismo, perde-se a capacidade de escuta e de construção coletiva. O radicalismo é a negação do meio-termo, da ponderação e do equilíbrio, atributos essenciais para que uma nação se desenvolva em paz. Quando as paixões políticas transformam adversários em inimigos, abre-se espaço para o autoritarismo e para a desintegração do tecido social.
Não adianta ofender autoridades ou ministros do Supremo Tribunal Federal. Essa atitude apenas intensifica a radicalização e a polarização nefasta que ergue muros entre os seres humanos. Nunca concordei com essa prática. Podemos discordar sem ofender, podemos não concordar sem insultar, podemos nos opor sem ultrapassar os limites da serenidade e do respeito. O fato de não concordar não me autoriza a desrespeitar.
A esquerda, ao adotar posturas radicais, também incorre no mesmo erro. Quando rechaça todo o pensamento conservador como retrógrado ou indesejável, fecha-se ao debate e impõe uma hegemonia ideológica que é, igualmente, prejudicial à democracia. A política não pode ser um campo de batalha onde se busca eliminar o outro, mas sim um espaço de construção conjunta do bem comum.
O Brasil é uma nação plural, com raízes profundas tanto no conservadorismo quanto no progressismo. A convivência entre essas forças, desde que pautada pelo respeito às regras do jogo democrático, é saudável e necessária. É na diversidade de opiniões que reside a riqueza de uma sociedade verdadeiramente livre. O radicalismo, ao contrário, é um veneno silencioso que corrói instituições, despreza a moderação e conduz à intolerância.
Portanto, é imperativo que os líderes políticos, formadores de opinião e cidadãos comuns adotem uma postura responsável, aberta ao diálogo e comprometida com os princípios constitucionais. Não há futuro possível em uma sociedade refém de extremismos. O caminho do equilíbrio, da escuta e do respeito à diversidade é, sem dúvida, o mais difícil, mas é também o único que garante a paz duradoura e a solidez das liberdades civis.
Ao rejeitarmos o radicalismo em todas as suas formas, reafirmamos nosso compromisso com a democracia, com o pluralismo e com o Brasil que sonha em ser mais justo, mais forte e verdadeiramente unido.
Léo Vilhena