Que país é esse?
Estamos vivendo tempos obscuros e realidades ainda mais sombrias.
Últimas atualizações em 14/11/2025 – 18:03 Por Redação GNI
Quem me conhece e está acostumado a ler as minhas modestas e simples análises, que nem de longe se comparam às análises de mestres como Augusto Nunes, Silvio Navarro, Adalberto Pioto, Alexandre Garcia e companhia, sabe que eu tento ser o mais direto, claro e lúcido possível. Isso é um fato concreto.
O que não tem nada de concreto, e digo isso com muita tranquilidade, é que estou perdido no tempo e no espaço. Parece que estou vivendo, ou estamos vivendo, em uma realidade paralela, em um mundo paralelo. Ou será que tudo isso é um sonho? Ou um pesadelo? Não sei.
Mas o que estamos vivendo no Brasil me fez repetir algumas vezes, em posts no X: que país é esse?
Estamos vivendo tempos obscuros e realidades ainda mais sombrias. Parece um pesadelo sem fim. Os desmandos e abusos do Judiciário, a inércia quase cúmplice do Legislativo e a tomada silenciosa e progressiva do Executivo formam um cenário que nenhum roteirista teria coragem de escrever.
Quem não cometeu crime algum está sequestrado pelo Regime. Jair Messias Bolsonaro.
E quem cometeu ‘crimes pra caralho’ (com a devida licença poética), virou presidente. Me nego a escrever esse nome.
O mais assustador de tudo isso é perceber que a normalização do absurdo se tornou rotina. A cada novo capítulo dessa novela grotesca, em vez de indignação coletiva, vemos apenas suspiros resignados, como se a população tivesse sido condicionada a aceitar que o errado é certo e que a justiça é um privilégio, não um princípio. E quando a injustiça é seletiva, quando a lei atua como arma e não como escudo, o país deixa de ser uma democracia e passa a ser um laboratório de arbitrariedades.
Outro dia desses, o Gustavo Segré, no Faroeste à Brasileira, comentou: “será que ainda vale a pena lutarmos pelo Brasil?” Às vezes eu me faço essa pergunta também.
E quando essa dúvida surge, ela não nasce da covardia nem do cansaço gratuito. Ela nasce da exaustão de ver um país gigantesco sendo encolhido por mãos pequenas. Nasce da frustração de assistir à inversão de valores se tornar regra, à política virar refém de vaidades e às instituições se converterem em máquinas de intimidação. É uma pergunta triste, mas legítima. E é feita justamente por quem ainda se importa.
Porque lutar pelo Brasil não é vestir camiseta amarela em dia de manifestação. Lutar pelo Brasil é acordar todos os dias sabendo que o jogo está marcado, que as cartas estão viciadas e que, mesmo assim, você continua tentando jogar limpo. É defender princípios mesmo quando parece que ninguém mais lembra o significado dessa palavra. É remar contra uma maré que insiste em empurrar o país para um abismo moral, institucional e econômico.
A dúvida sobre continuar lutando também revela um país que falhou com seu próprio povo. Quando cidadãos honestos se perguntam se vale a pena permanecer de pé, é porque o peso da democracia está sendo sustentado por poucos e sabotado por muitos.
Mas, paradoxalmente, é justamente esse desânimo que prova a importância de continuar. Porque se até os que enxergam a escuridão desistirem, a escuridão vence. Se os que ainda têm lucidez jogarem a toalha, sobra apenas o delírio, a propaganda e a mentira institucionalizada.
Então, sim, às vezes a pergunta dói. Mas é ela que mantém o país respirando. É ela que lembra que ainda existe gente que não aceitou a rendição. E, no fim das contas, talvez a verdadeira luta seja justamente essa: continuar lutando mesmo quando parece não valer a pena.
O mais curioso, para não dizer revoltante, é que muitos que ontem gritavam por liberdade hoje celebram a mordaça alheia. Aplaudem censura, batem palmas para prisões arbitrárias e repetem narrativas prontas como se fossem verdades absolutas. A cegueira voluntária é tão perigosa quanto a opressão explícita. E talvez até pior, porque legitima o autoritarismo travestido de moralidade.
Enquanto isso, o cidadão comum fica à deriva, tentando entender em que momento o país perdeu o eixo.
O Brasil virou um lugar onde discordar é crime, pensar é suspeito e questionar é pecado institucional.
A sensação é de que estamos todos tentando atravessar uma tempestade com um fósforo aceso na mão, esperando que ele ilumine alguma coisa.
E é exatamente nesse cenário que a famosa pergunta volta a ecoar com mais força do que nunca: que país é esse?
A resposta, infelizmente, parece cada vez mais distante. Talvez porque o Brasil tenha deixado de ser apenas um país. Virou um campo de batalha moral, institucional e cultural. E, nesse campo, a verdade virou refém, a justiça virou moeda e a liberdade virou luxo.
Resta saber até quando. Porque todo pesadelo um dia acaba. A dúvida é: “estaremos acordados quando isso acontecer?”
Léo Vilhena | Jornalista

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