Boulos fará como ministro campanha eleitoral antecipada de Lula

Últimas atualizações em 31/10/2025 – 13:39 Por Gazeta do Povo | Feed


A posse de Guilherme Boulos (PSOL-SP) como chefe da Secretaria-Geral da Presidência representa, para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a oportunidade de manter um forte cabo eleitoral da esquerda dentro do governo.

Caberá a Boulos liderar, com aparato estatal e recursos federais, aquilo que já se vê na propaganda oficial e em eventos públicos como possível campanha antecipada pela reeleição do presidente, agora levada para o cotidiano das ruas e da mobilização popular.

A nomeação de Boulos, anunciada em 20 de outubro, revela mais do que uma simples mudança do Legislativo para o Executivo. Segundo analistas, trata-se de uma ação estratégica do projeto eleitoral de Lula, além da preparação do futuro na carreira do deputado, tido como potencial herdeiro político do petista.

“Boulos foi o escolhido para ser o novo Lula. O que ele vai fazer no novo cargo é o que antes se chamava campanha eleitoral antecipada, travestida agora de divulgação das ações de governo, percorrendo o país de norte a sul”, afirma Madeleine Lacsko, consultora de comunicação.

Escolha de Boulos mirou articulação política com movimentos sociais

O cargo palaciano que Boulos assume tem papel central de articulação política, ligação com movimentos sociais e presença em comunidades de todos os estados. Ele próprio afirmou que a sua missão será a de “ajudar a colocar o governo na rua”.

A notícia da substituição de Márcio Macêdo (PT) por Boulos no cargo de secretário-geral evocou o histórico de polêmicas do ativista.

A indicação provocou reações intensas tanto de apoiadores quanto da oposição. Do lado governista, a avaliação interna é que a escolha de Boulos corrige o distanciamento entre o movimento social e o Palácio do Planalto, com um novo interlocutor menos burocrático e mais engajado. Além disso, ela serve de reabilitação política após sua derrota na disputa pela Prefeitura de São Paulo em 2024, com apoio de Lula.

Para analistas, a nomeação faz parte de uma operação maior: levar Boulos ao núcleo do poder federal, ao mesmo tempo em que o tira da disputa pelo governo estadual — o que reforçaria a frente nacional de Lula e preservaria o espaço reservado ao PT em São Paulo. Mas Boulos afirmou que Lula não o proibiu de disputar eleições em 2026, deixando a decisão para o próximo ano, embora há chance de ele ficar até o fim. Uma das possibilidades seria Boulos candidatar-se ao Senado.

Como “ministro da mobilização” ou “ministro da reeleição”, Boulos mira as chamadas bases sociais para recuperar capilaridade em regiões onde o Estado parece ausente, dando visibilidade à gestão federal e preparando palanques e apoios políticos para 2026.

Oposição acusa Lula de aparelhar a máquina estatal para seus fins eleitorais

O anúncio de Boulos no Ministério foi recebido com protestos na oposição. Parlamentares de direita classificaram a nomeação de captura ideológica do Estado. Para eles, Boulos, que tem origem na militância dos movimentos sem-teto, é incompatível com a função ministerial.

O deputado Kim Kataguiri (União-SP) ironizou a escolha de Boulos pelo presidente, que já era ventilada desde o começo do ano: “Lula nos deu dois presentes: colocar mais uma pessoa para atrapalhar o governo e tirar das eleições um dos piores candidatos de São Paulo”.

Já o deputado Ricardo Salles (Novo-SP), ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL), criticou o “prêmio da militância”: “agora, invasão é pela porta da frente, com tapete vermelho e carro oficial”, escreveu nas redes sociais. Outros acham que o ativismo afastará eleitores moderados e elevará a polarização.

Parlamentares da direita classificaram a nomeação de Boulos como “deboche” e “vergonha nacional”. “Enquanto esfola o povo com a maior carga tributária da história, o revolucionário de iPhone é premiado com cargo para seguir destruindo o país”, disse o vice-líder da oposição na Câmara, Ubiratan Sanderson (PL-RS).

Uma das metas de Boulos é aproximar Lula de trabalhadores por aplicativo

Leandro Gabiati, diretor da consultoria política Dominium, reforça que uma das tarefas de Boulos envolve motoristas e entregadores de aplicativos, um público a ser conquistado pelo PT. “Lula sabe que é preciso aprimorar o diálogo com setores com os quais seu partido tradicionalmente não se comunica, como são as categorias de trabalhadores vinculados a novas tecnologias e os pequenos empreendedores”, explica.

Um dos fafores que poderiam ajudar Boulos nessa missão é o fato de ele ser conhecido em São Paulo, onde há grande quantidade de motoristas. Por outro lado, não fica clao se a pauta dele de defender direitos desses trabalhadores terá aderência entre motoristas de aplicativo, que são mais favoráveis à desregulamentação do setor.

O especialista vê a classe C como decisiva numa disputa preliminarmente polarizada, que deve resultar numa diferença menor de votos ao vencedor. “Políticas como reforço do Minha Casa, Minha Vida, ampliação da isenção do Imposto de Renda e a aproximação aos trabalhadores de aplicativos passa por aí”, observa, frisando que o governo vai procurar retorno eleitoral a partir dessas iniciativas.

Segundo analistas, por essas razões, a indicação de Boulos tem significado muito além da mera composição de forças do governo. Trata-se de dar a ele a função de mobilizar os movimentos sociais para o pleito de 2026. Nesse sentido, o deputado teria até se comprometido a não disputar novo mandato para evitar prejuízo à função, condicionado a novas avaliações. Para ser candidato, ele teria de se desincompatibilizar até abril.

A chegada de Boulos à Esplanada dos Ministérios não só reforça o caráter eleitoreiro do governo, mas, destacam analistas, também lança o alerta sobre riscos à democracia. Isso porque se a mobilização vira uma finalidade em si mesma e o Estado se transforma em instrumento de campanha, deixando seu papel constitucional em segundo plano.

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