Cessar-fogo comprova “relação especial” de Trump com o Catar
Últimas atualizações em 11/10/2025 – 22:50 Por Gazeta do Povo | Feed
Uma mistura de otimismo e preocupação tomou conta do mundo nesta semana com o tão aguardado acordo de cessar-fogo entre Israel e Hamas, que entrou em vigor nesta sexta-feira (10). No entanto, toda a euforia da trégua minimizou um movimento geopolítico que ocorre há meses: uma influência cada vez maior do Catar sobre os Estados Unidos.
Dois episódios recentes evidenciam isso: o pedido de desculpas imposto ao primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, pelo ataque em setembro a Doha – algo que possivelmente foi constrangedor para a autoridade israelense – e a assinatura de uma ordem executiva pelo presidente americano, Donald Trump, que garante a segurança do Catar contra qualquer agressão. O documento diz que qualquer ataque ao país será considerado um ataque aos Estados Unidos, o que lembra o artigo 5 do tratado da Otan, de defesa mútua.
Doha se tornou o principal abrigo do Hamas no Oriente Médio, especialmente depois dos ataques terroristas de 7 de outubro de 2023, quando Israel iniciou suas operações militares na Faixa de Gaza. Muitos terroristas encontraram no país um refúgio contra a pressão militar de Israel. Os fortes laços com o Irã também estão presentes no histórico do Estado catari.
Essa crescente aproximação do governo Trump com o Catar, apesar da expressa condenação da Casa Branca ao terrorismo e dos atritos com o regime de Teerã, mostra que o governo de Doha mantém uma forte influência na política do republicano para o Oriente Médio e pode frear alguns interesses de Israel na região.
Ksenia Svetlova, diretora executiva da Organização Regional pela Paz, Economia e Segurança (Ropes) e ex-membro do Parlamento israelense elencou em um artigo de opinião no jornal Times of Israel no mês passado três alianças informais que se formaram no Oriente Médio: o eixo iraniano, que conta com seus braços terroristas como o Hamas e o Hezbollah; o eixo moderado, que inclui Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Egito, Jordânia e outros; e o eixo Catar-Turco, apoiador da Irmandade Muçulmana, do Hamas e outros grupos da região.
Svetlova pontua que este último bloco frequentemente se posiciona contra o bloco saudita-egípcio, ao mesmo em que hospeda forças e investimentos dos Estados Unidos.
Trump poderia se aproximar especialmente do segundo eixo, com a Arábia Saudita, visto que mantém negócios no Oriente Médio. No entanto, o primeiro plano apresentado pelo republicano em fevereiro, a “Riviera de Gaza”, gerou atritos com o Egito, um dos mediadores do conflito entre Israel e Hamas – o presidente egípcio, Abdel Fatah al-Sissi, chegou a cancelar uma viagem a Washington devido à proposta controversa.
Enquanto tudo isso acontecia, o Catar seguiu como um país intocado pelo governo Trump em suas críticas e medidas. Em maio, o republicano chegou a visitar Doha, sendo presenteado com um Boeing 747 na ocasião para ser usado como uma aeronave da Air Force One, avião oficial da presidência americana. O Catar também é um dos mediadores do conflito entre Israel e Hamas.
Investimentos em universidades, importância militar e negócios particulares
Uma série de investigações do Departamento de Educação dos Estados Unidos revelou em 2020 mais de US$ 6,6 bilhões em financiamento externo em várias universidades americanas. Um desses investimentos vinha do Catar, mas também foram listados China, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita.
O relatório do governo americano, feito no primeiro governo de Trump, apontou esse financiamento como um “risco para a segurança nacional” na ocasião. Harvard, Stanford, MIT e outras instituições de elite estavam incluídas nesses fundos externos. De acordo com os registros, entre 2012 e 2019, Harvard recebeu cerca de US$ 7 milhões de Doha.
Alguns anos depois, esses ambientes estudantis se tornaram palco de protestos violentos anti-Israel, com casos de antissemitismo emergindo das universidades americanas.
Além dos investimentos na educação dos Estados Unidos, o Catar também é um importante aliado no setor militar de Washington, mantendo em seu território a maior base americana do Oriente Médio, Al Udeid, alvo de um ataque do Irã neste ano.
Nesta sexta-feira, o governo dos EUA também anunciou a instalação de uma base aérea do Catar em solo americano – a primeira do tipo -, reforçando a cooperação de defesa entre os dois países. Apesar dos laços com o Hamas serem motivo de preocupação para o governo Trump, Doha se tornou um local estratégico para as Forças Armadas americanas na região.
Em 2017, durante o primeiro mandato, Trump chegou a declarar um boicote ao Catar, dizendo que o país era um claro financiador do terrorismo. Contudo, poucas semanas depois, quando membros de seu governo agiram para evitar um isolamento de Doha – especialmente pela presença da importante base militar – o republicano se ofereceu para mediar uma crise entre o Catar e países vizinhos.
Além do envolvimento político e econômico entre Washington e Doha, familiares de Trump possuem laços empresariais com o Estado catari, que se apressou em financiar projetos imobiliários da família Trump, entre eles o resgate de um imóvel da Kushner Companies, ligado ao genro do presidente, um acordo amplamente visto como uma influência financeira do país do Oriente Médio na Casa Branca.
Desde o início do segundo mandato, Trump manteve uma relação amigável com o Catar. Na coletiva com Netanyahu, ele elogiou o emir catari, xeque Tamim bin Hamad Al Thani, chamando-o de “homem fantástico” por seu apoio ao plano de paz entre Israel e Hamas.
A riqueza do Catar, portanto, se tornou sua principal arma de negociação com os Estados Unidos e outras potências mundiais. Trump não condenou a posição do Catar sobre o Hamas, apesar de Doha não ter feito nada durante os dois anos de guerra para pressionar o grupo terrorista a se desarmar e devolver os reféns sequestrados em 7 de outubro.
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