Careca do INSS se justifica coincidências e paixão por carros

Últimas atualizações em 26/09/2025 – 04:49 Por Gazeta do Povo | Feed


Em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do INSS, Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”, se defendeu das acusações sobre o desvio de dinheiro da folha de pagamento dos aposentados com explicações inesperadas pelos parlamentares. Ele disse, por exemplo, que encontros com políticos foram mera coincidência, que sua aproximação com o senador Weverton Rocha (PDT-MA) se deu por causa de medicamentos à base de cannabis e que a posse de carros de luxo que valem milhões reflete apenas uma paixão pessoal por automóveis.

Logo na abertura da sessão na manhã desta quinta-feira (25), Antunes rejeitou a alcunha de “Careca do INSS” e disse que está sendo vítima de uma narrativa construída pela imprensa e adversários políticos. “Jamais fui este personagem fictício, o chamado Careca do INSS, rótulo criado pelo Sr. Eli Cohen. Induziram pessoas de bem, veículos de comunicação respeitados, profissionais de imprensa e toda a sociedade a acreditarem em uma narrativa fantasiosa”, afirmou. Ele se referiu ao advogado, Cohen, que ajudou a revelar o escândalo de fraudes a partir de investigação própria.

Em outro momento, Antunes afirmou: “A gente está vendo aqui o poder que tem a desinformação e a fake news. Uma informação que começou a partir de reportagens deu início a um enredo fantasioso”.

Um dos episódios mais questionados foi um almoço na casa do senador Weverton Rocha (PDT-MA). Antunes disse que o encontro não teve ligação política e sim com questões de saúde. “Sobre o senador Weverton e o costelão na casa dele: eu fui tratar do assunto de cannabis. À época eu estava com uma representação de uma marca internacional de produtos à base de cannabis”, explicou.

Ele relatou que conheceu uma assessora do gabinete do senador em um evento da Polícia Rodoviária Federal (PRF) sobre autismo, quando conversaram sobre a falta de medicamentos derivados da planta. “Foi essa a aproximação. Coincidência? Mera coincidência”, disse. Segundo Antunes, sua intenção era apenas entender o processo regulatório da cannabis no Brasil.

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Defesa cita paixão por carros e nega ocultação de veículos de luxo

Antunes também respondeu sobre os veículos de alto valor apreendidos durante a operação da Polícia Federal. Ele teve 14 veículos apreendidos que juntos teriam valor superior a R$ 6 milhões que poderiam ter sido usados em operações de ocultação de bens. Ele disse ter uma empresa de comércio e locação de automóveis e negou qualquer tentativa de ocultar bens.

“Eu tenho uma empresa de comércio e locação. Veículos que foram encontrados na minha posse, de fulano, de A, de B, de C… Isso é fato. Eu gosto de carros, eu gosto de máquinas”, declarou.

Ele comentou sobre uma Ferrari apreendida em Brasília que foi fotografada por seu filho e que as autoridades investigam se pertence à família. “Meu filho Danilo se aproximou porque é um jovem de 21 anos, e não se vê uma Ferrari como se vê um Uno.”

O carro em questão, um modelo F8 Tributo avaliado em R$ 4 milhões, foi encontrado na casa do empresário Fernando Cavalcanti, investigado por ligação com o esquema de lavagem de dinheiro.

“Careca” nega que tinha procurações para representar entidades 

A atuação de Antunes como procurador da Ambec (Associação dos Aposentados Mutualistas para Benefícios Coletivos, investigada por recebimento irregular de recursos de pensionistas) foi um dos pontos mais explorados. A entidade teria movimentado R$ 499 milhões e saltado de três para 600 mil associados em apenas dois anos, sendo que mais de 90% teriam afirmado nunca ter autorizado descontos.

O relator Alfredo Gaspar (União-AL) questionou quem concedeu a procuração a Antunes e quem o recebeu no Ministério da Previdência Social para tratar dos interesses da associação. Para o senador Izalci Lucas (PL-DF), havia um claro conflito de interesses, já que a Prospect, empresa de Antunes, teria recebido cerca de R$ 12 milhões da própria Ambec.

Antunes se defendeu dizendo que as procurações não lhe davam poder de controle e que apenas facilitavam a burocracia. “Nunca participei de estatuto ou assembleia. Eu sou do setor privado, vendo produtos e serviços”, afirmou. Ele frisou que os documentos “tiveram início, meio e fim” e que não era “procurador vitalício de ninguém”.

Negação de envolvimento em acordos e nas acusações financeiras

O empresário também negou participação em Acordos de Cooperação Técnica (ACTs) entre entidades e o INSS. “Nunca participei. Todo o trâmite tem data, dia e horário registrados em sistema público”, disse.

Antunes também foi questionado sobre Rubens Oliveira Costa, que os parlamentares dizem ser seu sócio. O empresário teria recebido R$ 947 mil em dinheiro suspeito. Antunes negou: “todas as minhas operações financeiras envolvendo meu CPF ou meus CNPJs foram feitas por meios legais, lícitos e registrados: Pix, pagamento de nota fiscal, boleto”, respondeu. A divergência levou a senadora Eliziane Gama (PSD-MA) a pedir acareação entre os dois empresários.

Em entrevista à imprensa, o presidente da CPMI, senador Carlos Viana (Podemos-MG), disse que depoentes já ouvidos podem ser convocados novamente. “Todas as pessoas que já estiveram na CPMI, desde ex-ministros a membros diretores, estão sujeitos a serem reconvocados se as provas desmentirem o que foi colocado nessa comissão”, afirmou.

Senador mostra que Antunes se contradisse no depoimento

Apesar das declarações sobre os ACTs, o senador Fabiano Contarato (PT-ES) mostrou o contrário. Ele apresentou na CPMI um documento que comprovava que Antunes tinha amplos poderes para celebrar “aditivo contratual em razão do acordo de cooperação técnica” com a Ambec.

O documento também demonstrava que “o Careca” poderia, “em quaisquer de seus departamentos, requerer e assinar, prestar declarações, solicitar informações, dar andamento em processos e acompanhá-los, tomar ciência de despachos, cumprir exigências, fornecer provas, fazer cadastramento e recadastramento do outorgante (Ambec)”.

Em resposta, Antunes voltou a dizer que o termo se limitava apenas a questões burocráticas e que responsabilidade pela fiscalização do ACT é na entidade que o contratou.

Em coletiva de imprensa, Alfredo Gaspar opinou que o depoimento de Antunes foi “revestido de mentiras” e que as respostas dadas aos senadores, sobretudo após a revelação feita por Contarato, confirmavam o envolvimento do lobista. “Está aí um depoimento revestido de mentiras, não bate com os dados da CPMI. Mas é um direito dele, realmente, falar a versão e até mentir. [Ele] não vai colaborar, mas ratifica tudo aquilo que a Polícia Federal e o que nós estamos descobrindo. Ele está no epicentro do maior roubo aos aposentados e pensionistas do Brasil”, afirmou Gaspar.

Indagado sobre o silêncio do depoente diante de suas perguntas, o deputado alagoano disse que a postura de Antunes foi um “elogio”. “Para mim é um elogio, já mostrou que não tem capacidade de mentir e enganar diante das perguntas do relator. E eu fico muito convicto e cada vez mais certo de que esse Careca não é o líder da organização criminosa. Ele é uma passagem do dinheiro desviado do povo trabalhador brasileiro”, declarou.

Gaspar acrescentou que é papel da CPMI e da Polícia Federal descobrir quem são os padrinhos políticos de Antunes.

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