Governo não cogita negociação com os EUA antes do tarifaço

Últimas atualizações em 29/07/2025 – 08:52 Por Gazeta do Povo | Feed


O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) já admite internamente que não haverá negociação com os Estados Unidos antes da taxação de 50% imposta pelo presidente Donald Trump aos produtos brasileiros entrar em vigor na sexta-feira . A avaliação acontece após semanas de embates nas redes sociais e de tentativas fracassadas do Itamaraty abrir canais de diálogo com a Casa Branca.

Ao invés de tomar medidas claras para tentar um acordo, Lula continua apostando no embate com Trump para tentar faturar politicamente aqui no Brasil e melhorar sua popularidade para as eleições de 2026.

Diferente dos países da União Europeia, do Reino Unido, do Japão, da Indonésia e das Filipinas, que conseguiram fechar acordos para reduzir o percentual de tarifas estabelecidas por Trump, o Brasil decidiu não enviar representantes de alto escalão para negociar com o presidente americano.

Os aliados de Lula chegaram a discutir a possibilidade de enviar uma missão oficial aos EUA, com autoridades do Executivo, numa última tentativa de retomar o diálogo com a Casa Branca. Contudo, houve uma avaliação de que, sem uma agenda fechada, a viagem poderia representar um vexame para a diplomacia caso o grupo não fosse recebido por Trump.

Ao contrário do que alega o governo do Partido dos Trabalhadores, os Estados Unidos apontaram um caminho para a negociação. O encarregado de negócios da Embaixada americana no Brasil, Gabriel Escobar, manifestou interesse dos EUA em minerais críticos e estratégicos brasileiros em reunião realizada a pedido dele com o Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram). Lula preferiu novamente o embate e a propaganda, dizendo que ninguém mexe nos minerais do Brasil.

“Ele [Trump] não quer conversar. Se ele quisesse conversar, ele pegava o telefone e me ligava. Ele nos deu até o dia 1º [de agosto]. Se nós não dermos uma resposta no dia 1º, ele vai taxar o nosso comércio em 50%. Vou contar uma coisa para vocês: eu não sou mineiro, mas eu sou bom de truco. E se ele estiver trucando, ele vai tomar um seis”, disse Lula durante uma agenda em Minas Gerais na quinta-feira (25).

Na última quarta-feira (24), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o governo tentava diálogo com os secretários da Casa Branca, mas qualquer acordo dependeria de um aval de Donald Trump. “Estamos fazendo tentativas de contato reiteradas, mas há uma concentração de informações na Casa Branca. Alckmin está tendo contato com secretários. No nosso caso da Fazenda, temos contato com a equipe técnica do Tesouro americano, mas não com o secretário”, disse Haddad aos jornalistas em Brasília.

Assessores do Palácio do Planalto afirmando a jornalistas em Brasília que o presidente do Estados Unidos não estaria permitindo qualquer tipo de negociação e que as tratativas com os secretários de governo não produziram efeitos práticos. Com esses argumentos, o governo brasileiro dá a entender que não haverá mais negociação antes das tarifas entrarem em vigor na próxima sexta-feira.

Fontes ligadas ao governo que pediram anonimato dizem que dois fatos podem ter inviabilizado uma negociação para evitar as tarifas de 50%. Um deles foi uma entrevista dada por Lula à CNN Internacional, na qual ele afirmou que Trump “foi eleito para governar os EUA e não para ser imperador do mundo”. O outro fator foi a operação da Polícia Federal contra Jair Bolsonaro na última semana. O ex-presidente foi alvo de medidas restritivas, como o uso de tornozeleira eletrônica e proibição de se comunicar publicamente. As medidas foram determinadas pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Lula mantém campanha política enquanto Brasil apresenta recurso à OMC 

Sem conseguir abrir diálogo com os EUA, o Brasil usou a Organização Mundial do Comércio (OMC) para criticar as tarifas impostas por Trump. A manifestação contou com o apoio de cerca de 40 Estados-membros, incluindo a União Europeia, China, Rússia, Índia e Canadá. 

Sem citar nominalmente o presidente norte-americano, o secretário de assuntos econômicos e comerciais do Itamaraty, embaixador Philip Fox-Drummond Gough, criticou o uso de tarifas como ferramenta para interferir em assuntos internos de países. “Continuaremos a priorizar soluções negociadas e a nos basear em boas relações diplomáticas e comerciais. Caso as negociações fracassem, recorreremos a todos os meios legais disponíveis para defender nossa economia e nosso povo – e isso inclui o sistema de solução de controvérsias da OMC”, disse. 

A investida do Brasil ocorre em um contexto de fragilidade institucional da OMC, que enfrenta dificuldades operacionais desde 2019, quando os Estados Unidos passaram a bloquear a nomeação de novos árbitros. Esse impasse compromete a capacidade da organização de mediar e resolver disputas comerciais de forma efetiva. 

O recurso à OMC, no entanto, é visto no Palácio do Planalto como um primeiro passo para que o Brasil aplique a Lei da Reciprocidade e aplique tarifas contra os produtos dos EUA vendidos ao Brasil. A estratégia, no entanto, contraria parte do setor produtivo brasileiro, que prefere uma negociação direta com os Estados Unidos para evitar prejuízos à economia nacional. 

Lideranças empresariais alertaram o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) que uma possível retaliação do Brasil — como a imposição de tarifas a produtos norte-americanos — poderia gerar uma crise comercial de grandes proporções, afetando diretamente a indústria, o agronegócio, o emprego e a renda do país. Diante do fracasso nas negociações, o governo petista tem usado as tarifas de Trump para tentar ampliar a popularidade Lula aqui no Brasil. 

A estratégia da campanha lançada pelo PT e pela Secretaria de Comunicação (Secom) do Palácio do Planalto é a de tentar atrelar ao ex-presidente Jair Bolsonaro a taxação imposta contra o Brasil. Em um dos mais recentes vídeos produzidos pelo partido de Lula para as redes sociais, o Brasil é retratado como um navio que “enfrentou muitas tempestades”, mas que “sempre seguiu em frente”.  

Com o uso de inteligência artificial para mostrar um rosto parecido ao de Bolsonaro, a campanha diz que há quem queira furar o casco para afundar o navio e jogar milhões ao fundo só para o “ex-capitão escapar” – em referência ao ex-presidente Jair Bolsonaro. O vídeo também mostra “os bilionários que acham que vão escapar” tomando champanhe e sorrindo. 

Outra peça publicitária mostra os Estados Unidos como o “lobo mau” que tenta destruir a casa dos três porquinhos, que é feita com PIX. Ela é uma crítica a Washington ter aberto investigação sobre o sistema de pagamentos eletrônicos do Banco Central do Brasil, que concorre localmente com o sistema mundial de operações bancárias SWIFT. Há ainda um vídeo dizendo que patriotas “batem continência para outra bandeira e bajulam Trump”. 

“O governo não tem histórico de defesa de tons patrióticos ou de ideologia de soberania nacional. A esquerda, historicamente, sempre foi internacionalista e considerou o nacionalismo uma afetação burguesa que servia aos propósitos de dominação da classe dominante. Isso é um ponto que eles não têm como sustentar por muito tempo”, ressaltou o cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI). 

Estados Unidos colocam minerais do Brasil no acordo do tarifaço de Trump 

Enquanto o governo Lula não consegue abrir negociações com a Casa Branca, o encarregado de negócios da embaixada americana em Brasília, Gabriel Escobar, sinalizou que os EUA estão interessados em realizar acordos com o Brasil para a aquisição dos chamados minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras. A sinalização foi feita durante um encontro com representantes do setor de mineração brasileiro.  

No encontro, o presidente do Instituto Brasileiro de Mineração (Ibram), Raul Jungmann, informou ao representante norte-americano que qualquer negociação nesse sentido deve ser decidida pelo governo brasileiro, e não pelos empresários do setor. Assessores de Lula alegam, no entanto, que nenhuma negociação oficial de Trump envolvendo o comércio de nióbio e de lítio, por exemplo, foi feita diretamente com o Executivo. 

O Brasil concentra cerca de 92% da produção do nióbio, que ganhou popularidade na última década depois de ter sido reiteradamente defendido por Jair Bolsonaro como recurso estratégico para o país. Desde o retorno à Casa Branca, em janeiro, o presidente Donald Trump tem usado seu interesse em mineiras estratégicos de outros países para negociar acordos comerciais e retirar o controle da China do mercado.

Os minerais críticos e estratégicos são recursos importantes para o desenvolvimento econômico e tecnológico. O nióbio, por exemplo, é considerado essencial para a indústria siderúrgica, viabilizando ligas leves e resistentes de aços avançados, materiais magnéticos e supercondutores. 

Em fevereiro, Trump sinalizou à Ucrânia que estava interessado em uma negociação que envolvesse a exploração de minerais presentes no país do leste europeu. Em abril, depois de alguns impasses, um acordo foi assinado entre os países.

Em troca, os Estados Unidos estabeleceram o Fundo de Investimento para Reconstrução EUA-Ucrânia, cujo objetivo era acelerar a recuperação econômica da Ucrânia por meio de investimentos estruturados, com foco em setores considerados críticos, como energia, infraestrutura e mineração de minerais estratégicos, segundo informou o Departamento do Tesouro americano na ocasião. 

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