Governo Lula faz do Brasil o pior país no xadrez político de Trump

Últimas atualizações em 27/07/2025 – 21:33 Por Gazeta do Povo | Feed


O presidente americano Donald Trump confirmou neste domingo (27) que as novas tarifas sobre importações dos Estados Unidos entrarão mesmo em vigor na próxima sexta-feira (1º). Enquanto União Europeia, Reino Unido, Japão, Indonésia, Vietnã e Filipinas conseguiram fechar acordos com os EUA para reduzir a taxação anunciada sobre seus produtos, o governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) nem sequer conseguiu abrir uma mesa de negociação.

VEJA TAMBÉM:

  • Trump fecha acordo comercial com União Europeia e anuncia tarifa de 15%: “O maior já feito”
  • Trump anuncia acordo comercial com o Japão, com tarifas de 15%

A dificuldade do Brasil para estabelecer uma conversa com o republicano se deve em parte a atitudes do governo, que, desde o anúncio da tarifa de 50% sobre mercadorias brasileiras, tem buscado estabelecer um clima de confronto com o presidente americano. 

Trump anunciou o tarifaço contra o Brasil no dia 9 de julho, alegando que os Estados Unidos têm déficit na relação comercial com o Brasil. Ele afirmou ainda que o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por suposta tentativa de golpe de Estado também contribuiu para a sanção contra o Brasil. Desde abril, produtos brasileiros são taxados nos EUA em 10%. 

Logo após o anúncio, Lula reagiu dizendo que estatísticas do próprio governo americano comprovam um superávit dos Estados Unidos no comércio de bens e serviços com o Brasil da ordem de US$ 410 bilhões ao longo dos últimos 15 anos. 

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já tentou contato com o homólogo nos Estados Unidos, o secretário do Tesouro, Scott Bessent, mas teria recebido como resposta a informação de que o processo está na Casa Branca. 

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), coordena um grupo de trabalho que tenta reduzir a taxação, mas também encontra resistência. 

Na sexta-feira (25), Lula disse que Alckmin tenta diariamente, sem sucesso, negociar com os Estados Unidos. “Todo dia ele liga para alguém e ninguém quer conversar com ele”, afirmou o petista. 

A Casa Branca avalia não ter percebido envolvimento relevante ou ofertas significativas do Brasil na negociação de um acordo, segundo uma autoridade americana ouvida pelo jornal Folha de S.Paulo.

Confira a seguir atitudes do governo que fazem do Brasil o pior país a lidar com as tarifas dos Estados Unidos: 

Em vez de abrir negociação, Lula anuncia retaliação aos Estados Unidos 

Em entrevista concedida no dia 10 à TV Record, Lula declarou, em tom de enfrentamento, que “se ele [Trump] cobrar 50[%] de nós, vamos cobrar 50[%] deles”, anunciando que lançaria mão da reciprocidade de tarifas. Ele ainda fez críticas à atuação do presidente americano nos últimos anos.

“Se o que o Trump fez no Capitólio ele tivesse feito aqui no Brasil, ele estaria sendo processado como o Bolsonaro e arriscado a ser preso”, referindo-se à invasão da sede do Legislativo americano em 6 de janeiro de 2021 por apoiadores do republicano que contestavam o resultado das eleições.

VEJA TAMBÉM:

  • Brasil avalia retaliação ao tarifaço de 50% dos EUA

Lula também rebateu críticas sobre violações de direitos humanos praticadas por autoridades brasileiras, especialmente no STF. Ele afirmou que o Brasil é soberano e que “quem quiser fazer negócio no Brasil deve respeitar as leis brasileiras”. 

Segundo ele, o STF atua de forma independente e que seu governo respeita essa autonomia. 

Reação do governo pode ter efeito ainda mais negativo sobre a economia 

A retaliação contraria as expectativas de empresários dos principais setores afetados, que pedem ao governo que negocie uma saída com os Estados Unidos.

VEJA TAMBÉM:

  • Empresários querem que Lula negocie com EUA diante do risco de perder US$ 23 bilhões até 2026

Analistas consideram que uma reação do governo Lula à tarifa de 50% sobre os produtos brasileiros pode ter um efeito maior sobre a economia do que o próprio aumento das alíquotas. 

Logo após o anúncio do “tarifaço”, o mercado avaliava o impacto macroeconômico como “marginal” e “gerenciável”. A corretora XP Investimentos chegou a prever até mesmo um impacto deflacionário com a medida. 

Com a possibilidade de retaliação brasileira, o cenário muda. “Os Estados Unidos falaram que vão responder na mesma proporção, ou seja, as tarifas irão para 100%”, disse Alessandra Ribeiro, diretora de macroeconomia da Tendências Consultoria. 

“Aí os efeitos serão ainda mais expressivos, não só do ponto de vista setorial e do ambiente de aversão ao risco, mas também domesticamente, para a atividade econômica, com reflexos inflacionários.”

VEJA TAMBÉM:

  • Tarifaço de Trump: retaliação de Lula pode ter efeitos piores

O cenário pode levar o Banco Central a postergar o início do ciclo de queda de juros, previsto inicialmente para janeiro pela consultoria. 

“O risco maior não é apenas o efeito econômico direto das tarifas, mas a sinalização de um ambiente internacional mais hostil ao Brasil, especialmente se a retaliação brasileira for mal calibrada”, apontou ainda o BTG Pactual. 

Apelo à OMC deve ser inócuo 

Outra medida já anunciada por Lula contra as tarifas americanas é recorrer à Organização Mundial do Comércio (OMC). Para Leonardo Paz, pesquisador do Núcleo de Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), no entanto, o órgão perdeu relevância no cenário internacional, em grande parte, à atuação dos Estados Unidos.

VEJA TAMBÉM:

  • Tiro pela culatra: opções de Lula a tarifaço de Trump são inócuas

Desde o governo de Barack Obama (2009-2017) e com maior intensidade na primeira gestão de Trump (2017-2021), os EUA se indispuseram com a entidade devido a derrotas comerciais, opondo-se à designação de juízes que atuam na arbitragem das contendas. 

Paz explicou que, ao recorrer à OMC, mais do que uma solução prática e efetiva para a questão tarifária, o governo faz um gesto político em defesa do multilateralismo — um discurso já adotado na última cúpula dos Brics, que aconteceu no início do mês no Rio de Janeiro. De forma prática, ele considera difícil o Brasil ter algum ganho econômico real.

Lula usa tarifaço para taxar big techs americanas e arrecadar mais 

Em resposta a uma investigação comercial aberta pelos Estados Unidos contra o Brasil, Lula fez um pronunciamento em rede nacional no dia 17, quando defendeu a taxação e a regulamentação da atuação de grandes empresas de tecnologia – as chamadas big techs.

“A defesa da nossa soberania também se aplica à atuação das plataformas digitais estrangeiras no Brasil. Para operar no nosso país, todas as empresas nacionais e estrangeiras são obrigadas a cumprir as regras.”

VEJA TAMBÉM:

  • Depois do tarifaço: Lula usa Trump como arma para taxar big techs

No mesmo dia, em um evento da União Nacional dos Estudantes (UNE), em Goiânia, Lula referiu-se diretamente ao presidente americano. “Ele [Trump] disse que não queria que as empresas fossem cobradas no Brasil. O mundo tem que saber que esse país é soberano porque o povo tem orgulho. E a gente vai cobrar imposto das empresas americanas digitais”, afirmou. 

Para o especialista em Direito Digital, Inteligência Artificial e Cibersegurança, Alexander Coelho, no entanto, a proposta, no fundo, revela uma tentativa de aumentar a arrecadação fiscal por meio de retórica ideológica. “É curioso que se fale em equilíbrio competitivo enquanto o próprio Estado ignora os gargalos estruturais que afastam empresas do Brasil”, afirmou. 

No dia 22, o secretário-executivo do Ministério da Fazenda, Dario Durigan, contrariou as declarações de Lula, afirmando que o governo não discute a taxação de empresas de tecnologia americanas. 

Em vez de enviar comitiva aos Estados Unidos, governo grava vídeos para internet 

A atuação do governo federal nas redes sociais com comentários sobre o tarifaço de Trump também gerou críticas por parte de opositores, que consideram a medida inadequada. O governador do Paraná, Ratinho Júnior (PSD), foi um dos que falaram sobre o assunto, neste sábado (26), em evento da XP Investimentos.

“É um governo que, sobre uma questão tão importante como essa discussão do tarifaço do Trump, muitas vezes se vitimiza demais: ‘Ah, é uma coisa pessoal com o Brasil.’ Não. O Trump fez isso com a China, o Japão, as Filipinas, a Índia, o México e o Canadá. E o que os outros países fizeram? Foram lá, mandaram o seu chanceler, mandaram os seus representantes e sentaram na mesa para discutir. Aqui a gente faz vídeo na internet para brincar com esse assunto — como lamentavelmente o presidente da República fez esses últimos dias.”

VEJA TAMBÉM:

  • Caiado, Tarcísio e Ratinho criticam Lula por tarifaço

No mesmo evento, o ministro dos Transportes, Renan Filho, foi alvo de risadas da plateia, ao defender Lula. “Hoje mesmo o presidente, num ato em Osasco, disse que Alckmin está representando o Brasil na negociação, uma das pessoas mais qualificadas, quatro vezes governador de São Paulo, experiente, calmo e quer conversar com os Estados Unidos”, disse o ministro. 

O mediador do painel, Rafael Furlanetti, diretor de Relações com Investidores da XP, interveio. “Mas ministro, o presidente não deveria estar nos Estados Unidos negociando, em vez de em Osasco?”, perguntou.

VEJA TAMBÉM:

  • Mercado fincanceiro reage à postura de Lula sobre o tarifaço

Plano de contingência gera risco de gasto permanente e perda de eficiência 

Diante da dificuldade para negociar com os Estados Unidos, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse, na semana passada, ter um plano com medidas compensatórias para a economia brasileira pronto para apresentar ao presidente Lula. 

Dentre as ações estudadas estão a criação de fundos específicos, oferta de linhas de crédito subsidiadas, flexibilização nas regras de contratação e complementação salarial pelo governo. Segundo Haddad, esses recursos não terão impacto sobre o resultado primário e, portanto, sobre a meta fiscal do governo, pois serão contabilizados como despesas extraordinárias. Apesar disso, terão efeito sobre a dívida pública.

VEJA TAMBÉM:

  • Plano do governo contra tarifas de Trump sobre Brasil tem riscos

Na visão de especialistas, ainda que haja consenso sobre a necessidade de agir com urgência para resguardar a economia, as medidas que têm sido estudadas pelo governo podem não só agravar o endividamento público, mas também se provar ineficientes no médio e longo prazo, gerando, inclusive, maior dependência e queda de produtividade.

Lula e Alckmin divergem sobre possibilidade de negociar minerais críticos com Estados Unidos 

Na quinta-feira (24), o encarregado de negócios da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil, Gabriel Escobar, durante visita ao Instituto Brasileiro de Mineração, mencionou o interesse dos EUA nos minerais críticos e estratégicos do Brasil, sinalizando uma possível negociação entre os países. 

No mesmo dia, no entanto, durante evento no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, Lula, de forma enfática, afirmou que “aqui ninguém põe a mão”, referindo-se aos recursos brasileiros. 

“Nós temos a maior floresta do mundo para proteger. […] Temos todo o nosso petróleo, todo o nosso ouro, temos todos os minerais ricos que vocês querem para proteger, e aqui ninguém põe a mão. A única coisa que eu peço é que o governo americano respeite o povo brasileiro como eu respeito o povo americano”, afirmou. 

À noite, no entanto, o vice-presidente, Geraldo Alckmin, contrariou o presidente ao dizer que o Brasil pode negociar minerais críticos com os EUA, a fim de reverter as tarifas anunciadas por Trump.

Em declarações a jornalistas, Alckmin disse ter conversado longamente com o secretário de Comércio dos EUA, Howard Lutnick, no dia 19. Na entrevista, o vice-presidente afirmou que há uma pauta ampla a ser negociada com os Estados Unidos. Sem antecipar detalhes da conversa, ele não descartou que as negociações envolvam minerais críticos e estratégicos, como lítio, nióbio e terras raras.

VEJA TAMBÉM:

  • Alckmin contraria Lula sobre negociar minerais críticos com EUA

Gazeta do Povo
Sob a licença da Creative Commons (CC) Feed

Redes Sociais:
https://www.facebook.com/www.redegni.com.br/
https://www.instagram.com/redegnioficial/
https://gettr.com/user/redegni
https://x.com/redegni

Gazeta do Povo | Feed

Gazeta do Povo | Feed

A Gazeta do Povo é um jornal sediado em Curitiba, Paraná, e é considerado o maior e mais antigo jornal do estado. Apesar de ter cessado a publicação diária em formato impresso em 2017, o jornal mantém suas notícias diárias online e semanalmente em formato impresso. O jornal é publicado pela Editora Gazeta do Povo S.A., pertencente ao Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM).

error: CONTEÚDO PROTEGIDO

AJWS   ThemeGrill   Wordpress   Cloudflare   Wordfence   Wordfence