Moraes eleva grau de censura

No programa Última Análise desta quarta-feira (23), os comentaristas avaliaram a reação da grande imprensa diante das últimas decisões de Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), especialmente após as medidas cautelares impostas ao ex-presidente Jair Bolsonaro. Nesta quinta (24), o ministro decidiu manter tais medidas, por supostamente Bolsonaro ter descumprido uma delas, a de se pronunciar publicamente com a divulgação em redes sociais de terceiros.

Diversos veículos de imprensa se manifestaram sobre a decisão publicando editoriais que condenavam as medidas impostas pelo ministro.

O veículo O Estadão publicou editorial intitulado “Um caso escandaloso de censura”, citando o atropelo ao princípio do devido processo legal e violações aos direitos e garantias fundamentais, por parte de Moraes. O texto também se refere aos manifestantes do 8/1 como golpistas e afirma que eles tentaram rasgar os mesmos direitos.

“Esquizofrenia intelecutal”, definiu o escritor Francisco Escorsim. Segundo ele, o que os manifestantes tentaram fazer não chega nem perto do que os ministros do STF, supostos defensores da democracia, hoje ainda fazem. Além disso, tais abusos remetem a 2019, a partir dos inquéritos internos instalados pela corte, ele recorda.

Já O Globo, em editorial “Proibir entrevista é indevido e inoportuno”, menciona que o ex-presidente Bolsonaro, antes de qualquer condenação de Moraes, deve ser livre para dar entrevistas na imprensa. Por fim, o texto diz que “Este julgamento e todos os acontecimentos que o cercam, por suas profundas consequências políticas, têm de ocorrer de forma pública e acessível a toda a sociedade”

O ex-procurador da República, Deltan Dallagnol, critica que a palavra “censura” sequer é mencionada e que a palavra “inoportuno”, do título, deveria ser substituída por “inconstitucional”. Segundo o comentarista, a impressão é de que o veículo publicou o texto “quase obrigado, para não ficar mal diante do jornalismo brasileiro”.

Por fim, o jornal Folha de São Paulo publicou o editorial “Só Trumps e Bolsonaros lucram com a força bruta”. Na publicação o veículo fala expressamente que a “obsessão censora do ministro Alexandre de Moraes deveria ser inibida”.

Escorsim destaca a expressão “obsessão censora”, pois ela refletiria, também, um esgotamento por parte do ministro. “Cada vez mais ele vai dobrando a aposta e assim deixando um rastro impressionante. Talvez, quando voltarmos à normalidade, isso vá ficar ainda mais escancarado”.

O resgate da liberdade de imprensa

As medidas cautelares de Alexandre de Moraes atingiram toda a imprensa, conforme despacho que mencionou a proibição de “transmissões, retransmissões ou veiculação de áudios, vídeos ou transcrições de entrevistas em qualquer das plataformas das redes sociais de terceiros”.

“O combate às redes sociais foi criado pelo STF e apoiado pela imprensa, mas agora ela não consegue mais dissociar. A liberdade das redes sociais e de imprensa é a mesma coisa. É tudo liberdade de expressão,” explicou o jurista André Marsiglia.

Ainda, Marsiglia se diz otimista no papel da imprensa, em contraposição à percepção que o jurista tem sobre o Judiciário: “No Direito eu não tenho mais esperança. Aqui na mídia eu tenho alguma expectativa de fomentar o debate e trazer novas expectativas”, afirma.

O programa Última Análise faz parte do conteúdo jornalístico ao vivo da Gazeta do Povo, no YouTube. O horário de exibição é das 19h às 20h30, de segunda a sexta-feira. A proposta é discutir de forma racional, aprofundada e respeitosa alguns dos temas desafiadores para os rumos do país.