Lula passou a dialogar com eleitores de Bolsonaro após tarifaço, diz Edinho

O novo presidente do PT, Edinho Silva, afirma que o recente tarifaço contra o Brasil imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e a crise do aumento IOF entre o governo e o Congresso fizeram com que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) conseguisse dialogar com parte dos eleitores do seu principal, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

A avaliação é de que a “opinião pública”, na visão dele, foi provocada tanto pelo ato do líder norte-americano como pelos parlamentares, o que levou a um debate além da convicção ideológica. Para Edinho Silva, são razões conjunturais que fizeram Lula furar essa barreira.

“Sempre defendi que fôssemos capazes de dialogar com esse eleitor. Agora está acontecendo pela primeira vez desde a posse. As entregas do governo não mexeram na opinião pública, mas o debate sobre o modelo de sociedade mexe”, disse em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta quarta (23).

Edinho Silva era o preferido de Lula nas eleições internas do PT por defender uma aproximação do partido com a centro-esquerda, enquanto que seu adversário, Rui Falcão, pregava um retorno às raízes mais esquerdistas. Nisso, diz o ex-prefeito de Araraquara (SP), está o diálogo com os eleitores de Bolsonaro.

“Quando discutimos justiça tributária, estamos debatendo o modelo de Brasil que queremos construir: um Brasil de privilégios ou um Brasil de igualdade de oportunidade. Aí veio Trump dizendo ao Brasil como as nossas instituições têm que funcionar. Novamente, você vê a sociedade se movendo na defesa do Brasil. Mexemos na opinião pública”, pontuou.

O novo presidente do PT ainda sinalizou que o momento é de conversar também com aquele eleitor da chamada “terceira via”, que não queria Bolsonaro e nem Lula em 2022. Ele reconhece que precisa “melhorar a capacidade de dialogar”, mas vê que agora é preciso apresentar o Lula que “defenda um projeto de desenvolvimento no país”.

Para Edinho, o debate sobre o aumento do IOF, que ganhou os holofotes após o Congresso derrubar o decreto presidencial, e as medidas protecionistas impostas por Trump reacenderam uma discussão mais profunda sobre o Brasil.

“O tempo todo o Congresso reivindica. Em todas as votações, tem que aumentar o volume de emendas liberadas. Essa contradição precisa ser superada. No caso do IOF, o governo tinha aberto uma negociação. Achar que ia impor uma derrota daquele tamanho ao Lula e pensar que ele não ia reagir? Teve um erro grande de leitura”, disparou.

Apesar de ver uma vantagem para Lula – que foi sinalizada na recente pesquisa de opinião da AtlasIntel –, Edinho ainda adota cautela para cravar quais partidos seguirão com ele nas eleições de 2026, em que deve tentar a reeleição. O petista vem sinalizando fortemente que pretende disputar um quarto mandato, embora ainda não tenha oficializado publicamente essa intensão.

“Penso que o Brasil precisa fazer uma reforma política e eleitoral. Deveríamos debater o voto em lista, como as grandes democracias no mundo fazem. No máximo, caminhar para um modelo de voto distrital misto. Os partidos têm que ser maiores do que são. Hoje, ou você atende o varejo ou não forma mais maioria”, completou.