Disputa com Tarcísio expõe elo de Lula com ONG ligada ao PCC

Últimas atualizações em 12/07/2025 – 01:28 Por Gazeta do Povo | Feed

Uma visita do presidente Lula (PT) acompanhado de uma comitiva do governo federal à Favela do Moinho, no centro de São Paulo, no dia 26 de junho, vem gerando problemas para o governo desde que se tornou público que a negociação para a visita foi intermediada por uma ONG ligada ao Primeiro Comando da Capital (PCC).

Dois dias antes da visita, o ministro Márcio Macêdo, da Secretaria-Geral da Presidência, esteve na sede da Associação de Moradores da Comunidade do Moinho para conduzir as tratativas para a chegada do presidente.

A ONG é liderada por Alessandra Moja Cunha, irmã de Leonardo Monteiro Moja, chamado “Léo do Moinho”, que é apontado pelo Ministério Público de São Paulo (MP-SP) como líder do tráfico na região. Leonardo está preso desde agosto de 2024, mas seu grupo permanece exercendo controle sobre a Favela do Moinho. Já Alessandra foi condenada por homicídio e cumpriu parte da pena em regime fechado.

O endereço da associação já foi usado pelo PCC para armazenamento de drogas a serem distribuídas no centro da capital paulista. Em agosto de 2023, a Polícia Civil apreendeu no local centenas de porções de cocaína e maconha.

Nesta quinta-feira (9), o deputado federal Otoni de Paula (MDB-RJ) apresentou à Procuradoria-Geral da República (PGR) uma denúncia contra Lula e Márcio Macêdo. Segundo o parlamentar, há indícios de que ocorreram crimes como prevaricação, advocacia administrativa, associação criminosa e organização criminosa.

A ida de Lula à Favela do Moinho, entretanto, expõe uma queda de braço entre o governo federal e o governo de São Paulo, comandado por Tarcísio de Freitas (Republicanos). O local onde a comunidade se encontra pertence à União, mas o governo paulista tem interesse em obter a posse para construir um parque. Lula, entretanto, tem dificultado a cessão, e usou a ida ao local para criticar Tarcísio e criar condições mais rígidas para ceder o terreno.

Governo dará casas de até R$250 mil a moradores, e PCC quer parte do valor

A Favela do Moinho é uma das poucas comunidades localizadas na região central da cidade de São Paulo, situada entre os bairros de Campos Elíseos e Barra Funda. Ela ocupa uma área próxima à antiga fábrica Moinho Matarazzo. O local, onde hoje moram cerca de 800 famílias, foi ocupado há quase 30 anos.

Em abril deste ano, o governo paulista iniciou o processo de desocupação da favela, oferecendo reassentamento por meio de imóveis da Cohab e financiamento de até R$ 250 mil, além de auxílio‑aluguel de R$ 800 mensais até a mudança.

Além do combate à criminalidade na região, a gestão Tarcísio aponta que o reassentamento é necessário porque os moradores estão expostos a alto risco caracterizado pela localização, entre linhas de trens, e baixa possibilidade de escoamento por ser uma área murada e com apenas uma entrada. “A situação é agravada pela alta densidade de moradias e alta incidência de fiação exposta. Tanto que, na última década, foram registrados dois incêndios de grandes proporções que deixaram mortos e centenas de desabrigados”, diz nota do governo.

Algumas famílias aceitaram a proposta do governo, mas quando as casas foram sendo desocupadas, criminosos passaram a reocupá-las. Isso levou o governo a intensificar a presença da polícia militar na favela.

O governo Lula, então, decidiu usar as operações policiais como justificativa para paralisar o acordo de cessão do terreno. Dias depois, em 15 de maio, ambos os governos fecharam um acordo em que cada família receberia até R$ 250 mil (R$ 180 mil do governo federal e R$ 70 mil do estadual) para deixar o local e adquirir uma casa, além de auxílio-moradia de R$ 1.200 mensais até a mudança.

A visita de Lula à comunidade foi justamente para anunciar o acordo com subsídios federais. O petista aproveitou o ato para alfinetar Tarcísio, que não esteve presente no evento. “Quero que vocês saibam que agora vocês estão sob os cuidados do governo federal”, disse.

Tarcísio rebateu as provocações, dizendo que o objetivo do governo paulista não é fazer eventos e que a gestão solucionou o impasse habitacional na Favela do Moinho, apesar da resistência do governo federal.

No entanto, segundo reportagem do Metrópoles, com as promessas de moradia criminosos ligados ao PCC passaram a ameaçar moradores cobrando multas de até R$ 100 mil para deixar o local ou exigindo compromisso de venda dos imóveis recebidos para que o valor seja dividido com a facção.

Favela do Moinho durante evento com comitiva do governo federal (Foto: Cláudio Kbene/ PR)

Favela do Moinho é quartel-general do PCC, diz Ministério Público

Uma denúncia contra o traficante Leonardo Moja, apresentada em abril deste ano pelo Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), do MP-SP, apontou que a Favela do Moinho seria uma espécie de quartel-general “de todo o ecossistema criminoso na região central de São Paulo”.

Além do armazenamento de drogas, o grupo do traficante usou a comunidade, até recentemente, como base para operar antenas de rádio utilizadas na interceptação da frequência da Polícia Militar de São Paulo. A escuta facilitava a fuga de traficantes durante ações policiais.

Já a ONG liderada pela irmã de Leonardo Moja exerce ampla influência na favela. Segundo a Receita Federal, a presidente da associação é Alessandra Moja. No entanto, quem atribui a si o posto de líder principal é Yasmin Moja, filha de Alessandra e sobrinha de Léo do Moinho. Ela já se reuniu várias vezes com representantes do governo federal e, recentemente, esteve na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) em uma agenda promovida por uma deputada do Psol.

“A família Moja se aproveitou da desorganização e ausência do Estado naquela região para instalar um ambiente de várias práticas criminosas, que se retroalimentam dentro da clandestinidade e que violam direitos humanos básicos das pessoas que lá se encontram, em especial os dependentes químicos, inclusive incitando movimentos dentro da comunidade de subversão contra as ações policiais”, aponta a denúncia do Gaeco.

Lula visita ONGYasmin Monja, que se autodeclara presidente da Associação de Moradores da Comunidade do Moinho (Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil)

Boulos também se reuniu com membros da ONG e intermediou contato com Lula

Apesar de já terem se reunido com representantes do governo federal ao menos cinco vezes desde 2023, membros da Associação de Moradores da Comunidade do Moinho tentavam se encontrar com Lula, sem sucesso. Quem abriu caminho para o encontro foi o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), que foi até a Favela do Moinho no dia 1º de maio deste ano para encontrar-se com líderes da ONG.

Boulos, então, viabilizou uma reunião em Brasília, entre representantes da associação com a ministra da Gestão, Esther Dweck, e o ministro das Cidades, Jader Barbalho Filho. Foi a partir desse encontro que integrantes do governo passaram a organizar a ida de Lula à Favela do Moinho.

A reportagem não conseguiu contato com representantes da associação.

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