Apesar do tom, Lula ainda estuda reações contra tarifaço de Trump
Últimas atualizações em 11/07/2025 – 20:52 Por Gazeta do Povo | Feed
Diferente do discurso político adotado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o governo federal ainda estuda como vai reagir ao tarifaço de 50% anunciado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ao Brasil. A taxação entra em vigor a partir de 1º de agosto e a expectativa é de que o Executivo está divulgando nos bastidores de Brasília que usará esse prazo para tentar construir uma resposta proporcional e que minimize os efeitos junto aos setores que podem ser prejudicados.
Na contramão das negociações comerciais e em frente aos holofotes da mídia, o Palácio do Planalto que aproveitar o caso para travar um embate político com os apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro. A avaliação dentro do PT é de que o episódio pode justamente dar ao governo um discurso de defesa da soberania nacional caso consigam impor à oposição a responsabilidade pela taxação ao Brasil. A oposição diz que o governo se esforça para criar um inimigo externo e tirar o foco dos problemas econômicos e de governabilidade.
Logo após o anúncio feito pelo governo Trump, o presidente petista sinalizou, por exemplo, que pode usar a chamada Lei da Reciprocidade para responder aos EUA. A legislação, sancionada em abril deste ano, permite que o Brasil adote contramedidas equivalentes em caso de retaliações comerciais de outros países.
Apesar disso, a expectativa é de que a partir de agora o governo faça um mapeamento junto aos setores que serão afetados pelo tarifaço. O objetivo, segundo assessores do Planalto, é de que o prazo até a implementação da tarifa seja utilizado para que os ministros se reúnam com representantes de segmentos como do agronegócio, aviação e petróleo.
Com a estratégia, o petista vê uma chance de se aproximar de setores críticos ao governo. Diversos setores temem, por exemplo, que um escalonamento das tarifas por meio da Lei da Reciprocidade provoque justamente mais prejuízos para o setor produtivo.
A Frente Parlamentar do Agronegócio (FPA), uma das maiores bancadas do Congresso, disse em nota que o anúncio de Trump representa “um alerta ao equilíbrio das relações comerciais e políticas entre os dois países.” Para a frente, que com frequência se posiciona como oposição ao governo Lula, a saída diplomática é “o caminho mais estratégico para a retomada das tratativas.”
A entidade defendeu, no comunicado, uma resposta firme e estratégica. “É momento de cautela, diplomacia afiada e presença ativa do Brasil na mesa de negociações.” O discurso do Palácio do Planalto é que Lula atuará para “defender” as empresas brasileiras e os empregos gerados por elas. Com a estratégia, o petista vê uma chance justamente de se aproximar desses setores que costumam fazer oposição ao PT.
Entre janeiro e maio, 79% das exportações brasileiras para os EUA foram compostas por bens industriais, como aeronaves, combustíveis, alimentos processados, químicos e máquinas. Os produtos que tiveram maior aumento nas exportações foram carne bovina (alta de 196%), sucos de frutas (96,2%), café (42,1%) e aeronaves (27%), segundo dados da Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil).
Governo Lula pode judicializar tarifaço de Trump na OMC
Uma das alternativas discutidas pelo Palácio do Planalto é recorrer do tarifaço de Trump junto à Organização Mundial do Comércio (OMC). Nos últimos anos, porém, ela perdeu relevância e atualmente vem enfrentando críticas por estar paralisada diante das tarifas anunciadas pelo presidente dos EUA.
Em tese, a OMC proíbe tarifas discriminatórias e estabelece a necessidade de tratamento igualitário de parceiros comerciais, a não ser em situações em que a segurança nacional está em risco. Contudo, Trump tem atuado para enfraquecer o organismo e, desde março, os Estados Unidos suspenderam os repasses ao órgão internacional.
Apesar disso, os aliados de Lula sinalizam que um recurso à entidade mundial costuma ser um primeiro passo para anúncio, posterior, de retaliações. O governo brasileiro alega que todas as tarifas aplicadas na importação de produtos pelo Brasil seguem os parâmetros da entidade, incluindo a do etanol, uma queixa do governo Trump.
“Veja, do ponto de vista diplomático, nós temos que recorrer à OMC. Você pode, junto com a OMC, encontrar um grupo de países que foram taxados pelos Estados Unidos e entrar com um recurso na OMC. Isso tem toda uma tramitação que a gente pode fazer. Se nada disso der resultado, nós vamos ter que fazer a lei da reciprocidade”, disse Lula em entrevista à Record TV, nesta quinta-feira (10).
PT e governo vão explorar tarifa de Trump com aliados de Bolsonaro
Fora do campo de negociação, integrantes do Planalto acreditam que o tarifaço de Trump pode ser usado para tentar recuperar a popularidade de Lula. A ideia dos petistas é impor ao ex-presidente Jair Bolsonaro a responsabilidade pela taxação contra o Brasil.
Para justificar o aumento da taxa sobre os produtos brasileiros, Donald Trump citou o processo judicial movido contra Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF) como “vergonha internacional”. O presidente dos EUA disse que a decisão de aumentar a tarifa ocorreu também “devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”, em referência às decisões envolvendo as big techs.
“A gente vê que esse clã [Bolsonaro], mesmo fora do governo, continua trabalhando contra o interesse brasileiro e contra o povo brasileiro. Antes, era um atentado à democracia, agora é um atentado à economia, prejudicando as empresas e prejudicando os empregos”, afirmou o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB), durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto.
Um levantamento da empresa Nexus, de pesquisa e Inteligência de dados, mostrou que, até a manhã de quinta, o termo “Trump” estava na 1ª colocação dos Trending Topics Brasil, da plataforma X, acumulando mais de 36,5 milhões de citações. Em segundo lugar, o termo “RESPEITA O BRASIL” apareceu com quase 2 milhões de citações e foi usado por apoiadores do governo que defendem a resposta de Lula contra o presidente dos EUA.
“O volume de menções é muito maior do que em dias normais, indicando que a decisão de Trump de taxar a economia brasileira em 50% mobilizou um sentimento nacionalista nas redes sociais, que em sua maioria saiu em defesa do Brasil e, por tabela, do governo brasileiro”, analisa Marcelo Tokarski, CEO da Nexus.
Contudo, o levantamento deve ser lido com cautela, pois representa apenas um segmento da população que é mais vocal e usa muito as redes sociais. Apoiadores da ação de Trump pela liberdade no Brasil tendem a não necessariamente se manifestar nas redes sociais.
Neste cenário, integrantes do PT querem justamente usar o debate nas redes sociais para polarizar contra Bolsonaro e seus aliados.
No Congresso, diversos parlamentares endossaram o discurso de Lula na crise do tarifaço de Trump. “Nossa soberania não é negociável. A decisão deplorável de Trump, de quem Bolsonaro lambe as botas, não é contra um governo, é contra o Brasil. Enquanto o bolsonarismo ri e aplaude de boné MAGA [Make America Great Again, Faça a América Grande Novamente], trabalharemos no diálogo diplomático para reverter as consequências desse ato insano”, disse o senador Humberto Costa (PE).
Na oposição, integrantes do PL, partido do ex-presidente Bolsonaro, os parlamentares ainda buscam uma forma de contornar a narrativa do governo. Nas redes sociais e no plenário da Câmara dos Deputados, parlamentares usaram à exaustão a frase “a culpa é do Lula”. O argumento passa pela ideia de que o presidente não soube criar relação diplomática com a gestão de Trump.
Gazeta do Povo
Sob a licença da Creative Commons (CC) Feed
https://www.instagram.com/redegnioficial/