Aliança Kassab-Bolsonaro terá o primeiro teste em Minas Gerais

Últimas atualizações em 06/07/2025 – 21:34 Por Gazeta do Povo | Feed


A parceria eleitoral entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e Gilberto Kassab, presidente do PSD, que eram desafetos até pouco tempo, ganhou impulso nas últimas semanas com gestos públicos e postagens nas redes sociais, além de negociações vazadas na imprensa. O primeiro teste dessa aliança inesperada ocorre em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, onde as maiores personalidades do PL e PSD já negociam uma candidatura única da direita ao governo estadual. Essas conversas alcançam os planos para a conquista da Presidência da República.

Na corrida pelo governo mineiro, despontam dois pré-candidatos da direita – o deputado Nikolas Ferreira (PL) e o senador Cleitinho (Republicanos) –, além do vice-governador Mateus Simões (Novo), apoiado pelo governador Romeu Zema (Novo) e em articulação explícita para ingressar no PSD.

O movimento para viabilizar Simões, deflagrado com aval até do ministro das Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD), causou desconforto no grupo do senador Rodrigo Pacheco (PSD), outrora aliado, que quer governar Minas com apoio da esquerda e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A aliança com Bolsonaro está, contudo, no radar, ainda mais se ele escolher Tarcísio para a corrida presidencial, com apoio garantido por Kassab, que pode ainda disputar o Palácio dos Bandeirantes. O aceno do ex-presidente ao PSD visa o apoio do partido, o que é desejado também por Lula, que enfrenta crises de popularidade e com o Congresso.

Reunião de Bolsonaro e vice-governador de MG avaliou união da direita no estado

Em visita a Minas no fim de junho, Bolsonaro foi recebido por Simões, para discutir convergências no campo conservador. O interesse do vice-governador no encontro em Belo Horizonte ficou evidente com a troca de gentilezas.

Para Bolsonaro, a ocasião serviu para mostrar abertura para composições, mesmo não tenha histórico de relações com o pré-candidato de Zema. Embora sem anunciar apoio formal, o ex-presidente disse apenas que precisará ampliar consultas aos partidos e adiantou só que o PL lançará só um nome ao Senado pelo estado.

Deputado mais votado do país, Nikolas Ferreira, que não terá idade mínima para disputar o Senado ou a Presidência nas eleições 2026, é cobrado por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, a buscar novo mandato na Câmara e ajudar a ampliar a bancada. Em troca, teria o apoio a presidir da Casa em 2027.

Ao perceber a movimentação em curso, Hugo Motta (Republicanos-PB), atual presidente da Câmara – já de olho na reeleição para o posto -, iniciou nas últimas semanas aproximação com a direita, liderando a reação contra Lula, e cogitando indicar Nikolas para presidir ou relatar a CPMI do INSS.

Cleitinho já avisou que não abdicará da candidatura ao governo, mesmo se Bolsonaro pedir a desistência. Simões, por sua vez, é o plano B do PSD na sucessão estadual. Pouco conhecido do eleitor, tem apoio de bastidores e do deputado estadual Cássio Soares, presidente do PSD mineiro.

Negociação entre PL e PSD constrange a candidatura de Pacheco ao governo

O avanço explícito de Simões na direção do PSD se explica pela necessidade de ele conseguir construir uma candidatura com maior estrutura partidária que seria dada pelo partido de centro, enquanto tenta com o PL garantir para o seu nome um leque de apoios amplo da direita no estado.

A articulação do político do Novo com outras forças de centro e direita incomodou especialmente Rodrigo Pacheco, ex-presidente do Senado, sobretudo após o rival declarar que procurará Kassab caso o senador deixar o partido. Essa hipótese já vem sendo ventilada, conforme mostram os convites de filiação que Pacheco recebeu de partidos como PSB, MDB e União Brasil.

A tensão dentro do grupo político de Pacheco cresceu após Alexandre Silveira receber o vice de Zema em Brasília. O encontro foi visto como aceno político, poucos dias após Lula elogiar Pacheco e atacar Zema, Nikolas e Cleitinho.

Durante agenda em Contagem no último dia 12, Lula criticou Zema e ainda disse que “Minas não merece um Nikolas ou Cleitinho”, os principais pré-candidatos da direita ao governo mineiro, além de declarar apoio a Pacheco, chamando-o de “maior referência política de Minas” e “futuro governador”. Presente, Pacheco fez críticas indiretas ao atual chefe do Executivo estadual.

Dentro do esforço para a composição entre Novo, PL e PSD em Minas, Zema se reuniu com Bolsonaro e Tarcísio de Freitas no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, no último domingo (29), horas antes do ato liderado pelo ex-presidente na Avenida Paulista. Depois, o governador mineiro participou do protesto, subindo no trio elétrico ao lado de outros apoiadores de Bolsonaro.

Paulo Guedes pode ser a aposta do PL para o Senado com apoio de Nikolas

Toda a movimentação ocorre também enquanto o PL mineiro busca nome forte para o Senado. Os cotados são o ex-ministro da economia Paulo Guedes, cortejado por Bolsonaro e apoiado por Nikolas, e o influenciador paulista Marco Antônio Costa, conhecido por Superman, recém-transferido para Minas, mas que enfrenta resistência internas do partido no estado.

Para Marcus Deois, diretor da consultoria política Ética, há forte chnce de Paulo Guedes liderar um processo de articulação em torno das candidaturas majoritárias da direita em Minas. “O ex-ministro entra na disputa em boas condições, sobretudo por contar com o apoio declarado de Nikolas, que estará em campanha pela reeleição”, destaca.

Na avaliação do consultor, Pacheco deve manter o apoio do PT, oferecendo em troca a indicação do vice na chapa e uma das vagas ao Senado. Sobre a aproximação entre Bolsonaro e o vice-governador de Minas, Mateus Simões, Deois considera plausível que o PL tente atraí-lo para os seus quadros, ao mesmo tempo em que negocia a composição das demais candidaturas majoritárias.

Candidatura presidencial de Tarcísio pode consolidar parceira de Kassab e Bolsonaro

No plano nacional, a reaproximação entre Kassab e Bolsonaro gira em torno de um nome em comum: o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), afilhado político do ex-presidente e cujo governo tem Kassab como principal secretário e estrategista. O PSD também tem o vice-governador paulista, Felício Ramuth.

Enquanto acena à direita, o PSD segue transitando entre lados opostos: participa do governo Lula com ministérios, ao mesmo tempo em que é destaque no governo paulista. Para 2026, o partido projeta lançar candidatura própria à Presidência, tendo como pré-candidatos os governadores Ratinho Jr. (PR) e Eduardo Leite (RS).

Bolsonaro condecora Kassab com a honraria dada só a aliados próximos

Em visita a Presidente Prudente (SP) em 17 de junho, Bolsonaro fez um gesto simbólico de aproximação com Kassab, ao lhe entregar a “medalha 3i” — uma honraria criada por ele, reservada a aliados próximos, e que faz referência às expressões “imbrochável, imorrível e incomível”.

O evento contou com a presença de Tarcísio e foi marcado por elogios de Bolsonaro ao PSD, que classificou como “o maior partido depois do PL”, destacando que a legenda abriga “muita gente boa”. A manifestação revelou a relevância de Kassab como peça central no xadrez político nacional.

A razão da convergência entre as figuras mais influentes de PL e PSD está na convicção de que o potencial da direita para 2026 é crescente, mas precisa ser reforçado pelo eleitorado do centro para vencer resistências, sobretudo no segundo turno, além de agregar estrutura partidária e capilaridade.

Kassab, com seu estilo pragmático e ambíguo, tem acumulado influência tanto nos bastidores do Palácio do Planalto quanto entre aliados do campo conservador. Bolsonaro, por sua vez, busca manter hegemonia sobre a direita e já admite abertamente que poderá apoiar um nome de confiança, e não necessariamente o seu, para disputar o Palácio do Planalto.

Analista vê chance de dois nomes da direita irem ao segundo turno em MG

Adriano Cerqueira, professor de Ciência Política da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), avalia que a sucessão mineira configura um cenário especialmente complexo e desafiador para as articulações da direita.

Segundo ele, o senador Cleitinho tem fortes motivações para manter a pré-candidatura ao governo estadual, sobretudo por buscar afirmar maior independência política e por estar apenas na metade de seu mandato no Senado. “Bolsonaro e a direita sairão vitoriosos de toda forma”.

Cerqueira cita a possibilidade de a disputa estadual caminhar para um segundo turno entre dois candidatos de direita, como ocorreu nas últimas duas eleições em Minas.

Para ele, no entanto, o aspecto mais interessante do atual processo de negociação partidária no estado está na aproximação entre Bolsonaro, Zema e Kassab — um movimento que, em sua visão, tem repercussões diretas sobre a eleição presidencial de 2026.

“É a partir dos estados que se constroem os acordos fundamentais para garantir maioria no Senado e viabilizar uma grande composição rumo ao Planalto”, resumiu.

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