O que se sabe sobre o estado de saúde de Bolsonaro
Últimas atualizações em 03/07/2025 – 07:14 Por Redação GNI
Após uma nova internação e um agravamento de seu quadro clínico, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) deve permanecer em repouso domiciliar durante todo o mês de julho, cancelando compromissos políticos e suspendendo sua agenda pública. Desde que foi esfaqueado em 2018, o ex-mandatário tem comparecido diversas vezes ao hospital e realizado procedimentos médicos complexos. Mas o que se sabe sobre o estado de saúde atual de Bolsonaro?
Bolsonaro foi submetido a uma endoscopia digestiva. Segundo boletim médico divulgado pelo Hospital Vila Nova Star, de São Paulo, nesta quarta-feira (2), ele foi diagnosticado com intensa esofagite, gastrite moderada, refluxo gastroesofágico e hérnia de hiato. Além disso, exames apontaram gastroparesia (retardo no esvaziamento gástrico), alterações hepáticas e pressão arterial elevada.
O documento é assinado pelos médicos Cláudio Birolini (cirurgião-geral) e Leandro Echenique (cardiologista). A equipe recomenda que Bolsonaro evite qualquer esforço físico ou vocal, mantenha uma dieta leve e siga tratamento medicamentoso rigoroso.
“O objetivo é garantir a completa recuperação após cirurgia extensa, internação prolongada, episódio de pneumonia e crises recorrentes de soluços”, afirmaram os médicos. Em suas redes sociais, Bolsonaro reforçou a orientação dada pelos especialistas.
“Após consulta médica de urgência foi-me determinado ficar em repouso absoluto durante o mês de julho. Do exposto ficam suspensas as agendas de Santa Catarina e Rondônia. Crise de soluços e vômitos tornaram-se constantes, fato que me impedem até de falar”, postou o ex-presidente no “X”.
Apesar da internação ocorrer nesta semana, o estado de saúde do ex-presidente já aparentava se agravar antes da manifestação ocorrida na Av. Paulista (SP), no domingo (29). Ao participar de uma transmissão na rádio AuriVerde Brasil, no dia anterior (28), Bolsonaro chegou a abaixar a cabeça após realizar um comentário, demonstrando desconforto. Minutos depois, o apresentador Alexandre Pittoli anunciou que o presidente deixaria a transmissão para descansar para o ato no dia seguinte. Durante a manifestação na capital paulista, o ex-mandatário também apresentou evidente cansaço ao lado dos aliados.
O que é a esofagite intensa
A esofagite intensa é causada pelo refluxo ácido constante, agravado pela hérnia de hiato, que permite o retorno do conteúdo gástrico ao esôfago. A gastrite moderada e a gastroparesia dificultam a digestão e causam náuseas, vômitos e perda de apetite. A pressão arterial elevada e as alterações hepáticas também exigem monitoramento contínuo.
Segundo o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), que é médico, a esofagite intensa é uma consequência provável do refluxo, algo comum após cirurgias extensas como a que Bolsonaro enfrentou em abril. “O que é esperado numa cirurgia tão grande, que mexe tanto com os intestinos, com o conteúdo do abdômen, é que possa aumentar a pressão e ter um refluxo maior”, explicou o parlamentar.
Terra também destacou que, mesmo com uma recuperação rápida, o risco de refluxo persiste devido à manipulação intensa durante o procedimento cirúrgico. “Isso não é raro em pessoas que fazem uma cirurgia desse tamanho, que durou tanto tempo”, afirmou.
O deputado afirma que Bolsonaro deve evitar viagens e atividades públicas durante o período de recuperação. “Ele não pode ficar andando toda hora, viajando. Pelo menos durante uns 15 dias, 20 dias, ele vai ter que fazer um repouso”, alertou.
Disciplina é essencial no tratamento da esofagite, alerta médico
O tratamento da esofagite exige mudanças de hábitos e disciplina para evitar complicações, segundo o médico Walter M. Nobrega. “O tratamento envolve alguns ajustes como emagrecer, parar de fumar, elevar a cabeceira da cama, evitar alimentos com álcool, cafeína e gordura em excesso, além do uso de medicações que ajudam na proteção da mucosa e na redução da acidez estomacal, como os inibidores da bomba de próton”, explicou, citando os medicamentos da família do omeprazol como exemplo.
De acordo com Nobrega, em casos de inflamações mais graves ou quando há lesões profundas e sangramentos, pode ser necessário recorrer a procedimentos cirúrgicos ou endoscópicos. “Dependendo do grau da inflamação, da presença de lesões mais profundas ou sangramento, podem ser necessários procedimentos cirúrgicos e/ou endoscópicos”, destacou.
O médico ressalta que, por exigir restrições alimentares e mudanças em hábitos pelos pacientes, muitos acabam abandonando o tratamento ou o realizam de forma incompleta, o que pode agravar o quadro.
“Isso pode levar ao aprofundamento ou surgimento de novas úlceras, sangramento intenso, perfuração do esôfago e, em casos crônicos, alterações celulares que aumentam o risco de câncer de esôfago com o passar dos anos”, alertou Nobrega.
Histórico de complicações de Bolsonaro: da facada às cirurgias múltiplas
Desde o atentado em Juiz de Fora (MG), em setembro de 2018, Bolsonaro passou por nove internações e sete cirurgias. A facada causou lesões graves no intestino delgado e grosso, exigindo uma cirurgia de emergência no mesmo dia. Nos meses e anos seguintes, ele enfrentou uma série de complicações:
6 de setembro de 2018 – Facada e primeira cirurgia
Durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG), Bolsonaro foi esfaqueado no abdômen. A facada causou lesões graves no intestino delgado e grosso, além de uma veia abdominal. Ele foi submetido a uma cirurgia de emergência, que durou cerca de duas horas. Foi realizada uma colostomia, com a instalação de uma bolsa externa para coleta de fezes.
12 de setembro de 2018 – Obstrução intestinal
Seis dias após o atentado, Bolsonaro foi transferido para o Hospital Albert Einstein, em São Paulo, onde passou por uma segunda cirurgia para tratar uma obstrução no intestino delgado. O procedimento durou pouco mais de uma hora e ele voltou para a UTI após a operação.
28 de janeiro de 2019 – Retirada da bolsa de colostomia
Após meses de recuperação, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de cerca de sete horas para retirar a bolsa de colostomia. O procedimento foi bem-sucedido e não exigiu transfusão de sangue.
8 de setembro de 2019 – Correção de hérnia incisional
Bolsonaro passou por uma cirurgia de médio porte para corrigir uma hérnia incisional, surgida na cicatriz da facada. A operação durou cerca de cinco horas e foi considerada dentro do esperado pela equipe médica, devido ao histórico de múltiplas intervenções na região abdominal 1.
14 de julho de 2021 – Nova obstrução intestinal
O ex-presidente foi internado novamente com um quadro de obstrução intestinal, dessa vez causado por aderências intestinais e, segundo ele, agravado por não mastigar corretamente um prato de macarrão. A cirurgia foi cogitada, mas o tratamento clínico foi suficiente.
3 de janeiro de 2022 – Obstrução intestinal por camarão
Após férias em Santa Catarina, Bolsonaro foi internado no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo, com nova obstrução intestinal, atribuída a um camarão não mastigado. Novamente, a cirurgia foi evitada com tratamento clínico.
12 de setembro de 2023 – Cirurgias digestiva e respiratória
Bolsonaro foi submetido a duas cirurgias simultâneas: uma endoscopia digestiva para tratar refluxo gástrico e uma septoplastia (correção do septo nasal). Também foram realizados procedimentos na região oro-nasal. O boletim médico classificou a recuperação como satisfatória.
4 de maio de 2024 – Internação por erisipela
O ex-presidente foi internado com um quadro de erisipela, uma infecção bacteriana na pele, geralmente causada por baixa imunidade ou problemas circulatórios. Ele recebeu antibióticos intravenosos e permaneceu em observação por alguns dias.
13 de abril de 2025 – Cirurgia de grande porte
Após passar mal durante um evento no Rio Grande do Norte, Bolsonaro foi transferido para Brasília, onde passou por uma cirurgia de 12 horas para liberação de aderências intestinais e reconstrução da parede abdominal. O procedimento foi de grande porte, mas ocorreu sem intercorrência
20 de junho de 2025 – Indisposição estomacal
No dia 20 de junho, Bolsonaro também enfrentou uma crise de soluços e vômitos e precisou interromper uma agenda em Goiânia (GO). Após exames, ele foi diagnosticado com um quadro de pneumonia viral.
1º de julho de 2025 – consulta de emergência
Bolsonaro voltou a passar mal nesta terça-feira (1º), passou por consulta de emergência e foi internado em São Paulo. Segundo boletim médico divulgado pelo Hospital Vila Nova Star, nesta quarta-feira (2), ele foi diagnosticado com intensa esofagite, gastrite moderada, refluxo gastroesofágico e hérnia de hiato. Além disso, exames apontaram gastroparesia (retardo no esvaziamento gástrico), alterações hepáticas e pressão arterial elevada.
Gazeta do Povo
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