Lula assume Mercosul com crítica velada a Trump por “guerras comerciais”
Últimas atualizações em 03/07/2025 – 11:25 Por Gazeta do Povo | Feed
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assumiu nesta quinta (3) a presidência temporária do Mercosul pelos próximos seis meses, após receber o cargo ocupado pelo líder argentino Javier Milei. Ambos são opositores e chegaram a trocar farpas no passado, mas se cumprimentaram com sorrisos e um aperto de mão protocolar ao chegarem ao Palácio San Martin, em Buenos Aires, onde ocorre a cúpula do bloco comercial.
Lula assumiu o comando do Mercosul com uma crítica velada ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, por promover “guerras comerciais” no mundo. Para ele, o bloco sul-americano é um “refúgio” para o mundo se sentir seguro.
“Quando o mundo se mostra instável e ameaçador, é natural buscar refúgio onde nos sentimos seguros. Para o Brasil, o Mercosul é esse lugar. […] Nossa tarifa externa comum nos blinda contra guerras comerciais alheias”, disse Lula em um discurso lido, sem improvisos.
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Lula ressaltou que as três décadas de existência do Mercosul criaram “bases sólidas” que levaram à criação de uma área de livre comércio baseada em “regras claras e equilibradas”. Isso, na sua visão, gerou uma “robustez institucional” que mostra ao mundo os países como “parceiros confiáveis”.
A fala foi semelhante à adotada em discursos que faz sobre o Brics, em que coloca o chamado Sul Global como um contraponto ao que seria uma política unilateral adotada pelos Estados Unidos. O que, ainda emendou Lula, pode levar o Mercosul a também se colocar em uma posição multilateral durante sua presidência temporária.
“Enfrentaremos o desafio de resguardar nosso espaço de autonomia em um contexto cada vez mais polarizado. A presidência brasileira representará uma oportunidade para refletir sobre o lugar que almejamos ocupar no novo tabuleiro global”, pontuou.
Apesar de não detalhar os objetivos políticos internacionais no período em que presidirá o bloco, Lula celebrou os acordos encaminhados até o momento, como o da Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA) e com a União Europeia, que ele espera assinar até o fim de sua gestão. Este, no entanto, ainda enfrenta resistência de países europeus – principalmente a França que ele pediu ao presidente Emmanuel Macron para “abrir o coração” e aceitar a parceria.
Mercosul deve olhar para a Ásia, diz Lula
Lula ainda citou a expectativa de avançar em tratativas comerciais com o Canadá, Emirados Árabes Unidos, Panamá e República Dominicana, atualizar os acordos com a Colômbia e o Equador, e aprofundar a relação com a Ásia, que ele classificou como “centro dinâmico da economia mundial”.
“É hora de o Mercosul olhar para a Ásia, centro dinâmico da economia mundial. Nossa participação nas cadeias globais de valor se beneficiará de maior aproximação com Japão, China, Coreia, Índia, Vietnã e Indonésia. A circulação de bens e serviços depende de infraestrutura adequada”, ressaltou o presidente citando projetos logísticos que já recebem investimentos chineses ou que estão na mira do país.
O olhar para a China em crítica aos Estados Unidos, no entanto, pode esbarrar principalmente em possíveis resistências de Milei, aliado de Trump e que já ameaçou retirar a Argentina do bloco.
Milei cutuca Lula por avanço de facções
Pouco antes do discurso de posse do cargo de presidente temporário do bloco, Lula foi provocado por Milei pelo avanço de facções criminosas brasileiras aos demais países do Mercosul, principalmente o PCC e o Comando Vermelho. O líder argentino disse esperar do petista uma solução para isso, visto que é “será impossível erradicá-las de seu país de origem”.
Lula não respondeu diretamente à crítica de Milei, mas pontuou que o combate ao crime organizado será uma das bandeiras levantadas por sua gestão pelos próximos seis meses.
“Grupos criminosos colocam em xeque a autoridade do Estado, disseminando violência, corrupção e destruição ambiental. Não venceremos essas verdadeiras multinacionais do crime sem atuar de forma coordenada. Precisamos investir em inteligência, conter os fluxos de armas e asfixiar os recursos que financiam a indústria do crime”, afirmou.
Entre as medidas, citou, estão a renovação do Comando Tripartite da Tríplice Fronteira para combater crimes financeiros e o tráfico de drogas, armas e pessoas; e a abertura do Centro de Cooperação Policial Internacional da Amazônia, compreendendo os nove países da região amazônica para coibir infrações ambientais e outros ilícitos.
“São iniciativas que se complementam e que precisam dialogar entre si para ganhar escala sul-americana. O Brasil vai mobilizar o Mercosul ampliado para aprimorar e aprofundar essa colaboração”, completou o presidente brasileiro.
Mais informações em instantes.
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