Governadores buscam voto da direita sem “colar” em Bolsonaro

Últimas atualizações em 03/07/2025 – 16:50 Por Gazeta do Povo | Feed

Sinais trocados, promessas de indulto e articulações políticas para 2026. Os quatro governadores da direita considerados como alternativas ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para disputar as eleições como principal nome de oposição à reeleição de Lula (PT) seguem um roteiro semelhante rumo à corrida presidencial. 

Para consolidar a candidatura ao Palácio do Planalto, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), Ratinho Junior (PSD-PR), Romeu Zema (Novo-MG) e Ronaldo Caiado (União Brasil-GO) buscam o apoio da direita conservadora com o aval do ex-presidente da República, mas calculam os prós e contras de vincular a pré-candidatura à figura de Bolsonaro.

A fórmula ideal inclui herdar os votos do ex-presidente, que está inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE),  sem “colar” no maior líder da direita brasileira, que sofre com a rejeição de uma parte do eleitorado – neste ponto, a exceção está em Tarcísio, que tem Bolsonaro como padrinho político. Enquanto se equilibram nessa linha tênue, os presidenciáveis acompanham os desdobramentos do processo da suposta tentativa de golpe de Estado em que Bolsonaro é réu no Supremo Tribunal Federal (STF).

Os governadores mantêm postura de não agressão aos ministros do STF, alvo de críticas do eleitorado conservador, e afirmam que devem conceder um indulto presidencial a Bolsonaro, em caso de vitória nas urnas. Entre os quatro, apenas Ratinho Jr. ainda não se comprometeu com todas as letras com uma eventual concessão do indulto, mas defende abertamente a anistia aos condenados pelos atos de 8 de janeiro de 2023.

Além de não entrar no embate direto com o Supremo, os presidenciáveis se alinham em críticas ao governo Lula, enaltecem resultados vinculados a bandeiras da direita nos estados e se esquivam de temas que podem colocá-los em rota de colisão com Bolsonaro, como ocorreu nas eleições de 2024. A Gazeta do Povo procurou os governos estaduais e os partidos, mas não houve manifestação dos presidenciáveis até a publicação desta reportagem.

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Fair play de Tarcísio de Freitas: trunfo ou fraqueza para a direita

Em alta na direita paulista, o governador Tarcísio de Freitas é criticado por apoiadores de Bolsonaro por não fazer uma crítica incisiva ao STF, principalmente ao ministro Alexandre de Moraes, responsável pelo processo da suposta tentativa de golpe de Estado. No último domingo (29), Tarcísio foi o único governador a discursar no palanque da avenida Paulista durante o evento contra o julgamento do ex-presidente no Supremo e pela anistia aos presos do 8 de janeiro, que pode beneficiar Bolsonaro com a retomada dos direitos políticos para a disputa eleitoral em 2026.

O governador paulista elogiou a gestão do ex-presidente, defendeu a liberdade de Bolsonaro para concorrer nas urnas e atacou a gestão de Lula, mas não seguiu o mesmo tom dos discursos em protesto contra Moraes e o STF. “A gente nunca imaginou que seria tão importante lutar pela liberdade. Se não tiver liberdade, não há democracia. Pode tentar tirar uma pessoa das urnas, mas não vão conseguir tirar do coração do povo”, disse o governador, enquanto estava ao lado de Bolsonaro.

A cientista política Juliana Fratini classifica a postura de Tarcísio como fair play e lembra da relação do chefe do Executivo com o governo Lula em projetos como a construção e concessão do túnel imerso Santos-Guarujá. “Quando foi necessário que ele fizesse articulações com o governo federal para realização de obras de interesse social no estado, ele foi maleável e não entrou em choque. O Tarcísio tem muito fair play”, analisa.

Questionada sobre como a postura em relação ao Supremo pode interferir numa eventual candidatura presidencial, Fratini avalia que o governador de São Paulo estabeleceu limites, sem perder pontos com eleitorado. “O fato do Tarcísio não fazer um combate direto ao STF não tem atrapalhado a ponto de perder apoiadores.

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Decisão está nas mãos de Bolsonaro e não dos governadores da direita

Para a cientista política, mais do que o movimento de aproximação dos governadores em direção ao ex-presidente, o que deve pesar é a posição de Bolsonaro. O líder do PL não descarta sequer a possibilidade da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro concorrer como presidente ou vice em uma chapa ao Palácio do Planalto.

“A questão não é quem quer se aproximar do Bolsonaro, mas de quem ele quer se aproximar. Ele é quem dá as cartas e vai passar a mão na cabeça do escolhido”, comenta.

Sobre a possibilidade de Bolsonaro “esticar a corda” com uma candidatura própria para trocar o titular da chapa no limite do prazo eleitoral – assim como Lula fez em 2018, quando estava preso e foi substituído nas urnas por Fernando Haddad – a cientista política avalia que o ex-presidente já demonstrou uma postura diferente na última manifestação. “Ele fez um discurso de tom mais ameno, não levou a própria candidatura, mas as eleições para o Legislativo, ou seja, com foco no Senado e na Câmara Federal.”

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Ratinho Junior precisa repetir façanha de unir Kassab e Bolsonaro

Nas eleições municipais de 2024, o governo do Paraná entrou em campo para protagonizar a articulação política no momento em que viu ameaçada a aliança PSD-PL pela resistência de Bolsonaro ao presidente nacional do partido, Gilberto Kassab. No início do ano passado, Bolsonaro criticou o PSD por fazer parte da base do governo Lula e por comandar três ministérios na gestão petista. Ele chegou a afirmar que não iria apoiar candidatos do partido de Kassab, que representaria o Centrão.

Aliado do ex-presidente desde 2018, Ratinho Junior conseguiu articular a chapa PSD-PL nas principais capitais do estado, entre elas, Curitiba, onde Eduardo Pimentel (PSD) foi eleito prefeito com o vice do PL, Paulo Martins, apesar do “fator Kassab”. Agora, o governador do Paraná tem o desafio de unir o cacique do PSD e Bolsonaro em torno do seu próprio nome para viabilizar a pré-candidatura presidencial.

Opositor de Lula, Ratinho Junior afirma que é a favor de mais candidaturas no primeiro turno e tem repetido o discurso de busca pela pacificação do país após o que considera um período de polarização mais concentrada. Recentemente, Kassab recebeu a medalha de “imbrochável, imorrível e incomível” de Bolsonaro, o que foi interpretado como uma aproximação entre os dois.

Kassab é secretário de Governo da atual gestão paulista e também articula uma possível candidatura presidencial de Tarcísio de Freitas, enquanto “flerta” com candidaturas de Ratinho Junior e até de Eduardo Leite (PSD-RS). Ou seja, se o governador paulista abrir mão de disputar a reeleição no estado para alçar um voo nacional, a articulação política pode caminhar para estreitar as relações entre Kassab e Bolsonaro.

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Confronto com Caiado e bloco independente em MG: os resquícios de 2024 entre os governadores da direita

As eleições nas maiores capitais do país evidenciam as contradições que podem atrapalhar o cálculo eleitoral dos governadores que almejam herdar os votos do ex-presidente Jair Bolsonaro. Entre os quatro presidenciáveis, Caiado e Zema subiram em palanques de candidatos concorrentes aos indicados por Bolsonaro, no ano passado, nas disputas pelas prefeituras.

O acirramento político foi mais intenso em Goiânia, onde o candidato a prefeito indicado por Caiado, o empresário Sandro Mabel (União Brasil), venceu o segundo turno das eleições municipais contra o candidato Fred Rodrigues (PL). Bolsonaro e o governador goiano participaram diretamente da campanha e o tom subiu quando o ex-presidente lembrou de antigas rusgas com Caiado, que criticou a gestão presidencial durante a pandemia.

“Fui contra governadores que falavam: fiquem em casa, a economia a gente vê depois. Governador covarde! O vírus ia pegar todo mundo, não tinha como fugir”, discursou então Bolsonaro, sem citar o nome de Caiado, durante um comício em setembro do ano passado. Após as eleições e o lançamento da pré-candidatura a presidente, Caiado afirmou que é a favor da anistia dos presos do 8 de janeiro, esteve ao lado de Bolsonaro em um dos atos na avenida Paulista e prometeu conceder o indulto ao ex-presidente se eleito.

Nas eleições municipais em Belo Horizonte, o governador Romeu Zema optou por indicar Luísa Barreto (Novo) a vice na chapa do candidato Mauro Tramonte (Republicanos), que contava ainda com o apoio de Alexandre Kalil no palanque, ex-prefeito da capital mineira e adversário político de Zema. A aliança naufragou no primeiro turno e Zema declarou apoio ao candidato do PL, o deputado estadual Bruno Engler, no segundo turno.

O parlamentar foi derrotado nas eleições do ano passado e, no último mês de fevereiro, o PL desembarcou da bancada de apoio ao governo na Assembleia Legislativa de Minas Gerais. Líder do PL na Casa, Engler foi responsável pela criação de um bloco independente com a presença de 11 deputados do partido.

Mesmo assim, Engler negou que o PL deixaria de apoiar os projetos do governo no Legislativo. No último domingo (29), Zema e Engler participaram do segundo ato pela anistia ao lado de Bolsonaro na avenida Paulista.

Em 2025, Zema voltou a fortalecer os antigos laços com o ex-presidente. O governador mineiro apoiou Bolsonaro no segundo turno das eleições de 2018 e 2022 e o partido Novo disse que só irá articular a candidatura presidencial de Zema caso o ex-presidente não consiga se viabilizar eleitoralmente para o próximo ano.

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