O Silêncio do vazio, a solidão presente na escuridão
Um tratado sobre a solidão
Últimas atualizações em 01/07/2025 – 08:28 Por Redação GNI
Ser abandonado por amigos é uma das experiências humanas mais dolorosas e, paradoxalmente, mais silenciosas. Não há velório para uma amizade que morre, nem cerimônia de despedida. Tudo se esvai em mensagens ignoradas, convites recusados, visitas que desaparecem e um silêncio que aos poucos se instala entre pessoas que, um dia, foram amigos…
Quando um amigo nos abandona, a dor não é apenas da ausência — é do colapso de uma narrativa construída a dois. Você começa a repassar mentalmente os momentos de risos, segredos divididos, ombros oferecidos. E, subitamente, tudo aquilo que parecia eterno revela-se frágil, condicionado, finito, quiçá, falso.
A psicologia nos lembra que as relações interpessoais são centrais para a nossa identidade. Carl Rogers, um dos grandes nomes da psicologia humanista, dizia:
“A experiência mais pessoal é também a mais universal.”
Ser deixado para trás, sentir-se substituível, toca em feridas profundas de pertencimento e valor pessoal. A amizade, que deveria ser um espaço seguro, torna-se o espelho de nossas inseguranças.
Segundo John Bowlby, criador da Teoria do Apego, a maneira como lidamos com perdas afetivas está profundamente enraizada em nossos padrões de apego formados na infância. Quando amigos nos abandonam, não apenas sentimos a perda presente — muitas vezes reativamos perdas passadas não resolvidas.
“Toda separação traz consigo a sombra de outras separações.”
Assim, o abandono de um amigo pode se transformar num eco de todas as vezes em que fomos deixados para trás.
Mais doloroso ainda é o abandono silencioso, aquele que não é explicado, que deixa perguntas sem resposta. A ausência de um encerramento claro — o famoso closure — torna a ferida crônica. Como diz Brené Brown, pesquisadora da vulnerabilidade e pertencimento:
“A clareza é bondade.”
A ausência de clareza, portanto, é uma crueldade sorrateira, perversa, maldosa e cruel.
Nos deixa presos a hipóteses, a dúvidas que corroem a autoestima. Será que eu fiz algo errado? Será que nunca fui realmente importante?
Mas existe um ponto de virada. Um momento em que a dor começa a se transformar em compreensão.
Entender que o abandono diz mais sobre o caráter do outro, é libertador.
A psicologia cognitivo-comportamental, por exemplo, nos convida a reestruturar pensamentos automáticos negativos, ensinando que a interpretação que damos ao abandono é o que perpetua o sofrimento.
“Não é o que acontece com você, mas como você interpreta isso que importa.” — Aaron Beck
Ser abandonado por amigos é, sim, uma ferida. Mas também pode ser um marco. Um convite para repensar relações, para resgatar sua própria companhia, para perceber que ser deixado não diminui seu valor.
Algumas amizades não são eternas, e tudo bem. O que não pode morrer com elas é o seu amor-próprio.
Léo Vilhena