Entidade critica escolha “ideológica” do Brasil por enviar embaixador ao Irã
Últimas atualizações em 25/06/2025 – 01:43 Por Gazeta do Povo | Feed
A Federação Israelita do Estado de São Paulo criticou nesta terça-feira (24) a decisão do Ministério das Relações Exteriores de antecipar a posse do embaixador do Brasil no Irã, André Veras Guimarães, em meio ao conflito com Israel. A entidade considera a medida uma “escolha ideológica equivocada”, pois o governo brasileiro não indicou um embaixador para Israel.
O governo removeu o embaixador Frederico Meyer, que ocupava o principal cargo na representação brasileira em Tel Aviv, em maio de 2024. A não substituição de um nome para o lugar de Meyer foi considerado um gesto político, pois ocorreu em meio a uma série de críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à ofensiva israelense contra o Hamas na Faixa de Gaza.
O Itamaraty atualizou a página sobre o embaixador do Brasil em Teerã com a frase: “Um novo Embaixador do Brasil assumirá em breve suas funções em Teerã”. A data não foi especificada, mas a expectativa é que Guimarães assuma o posto até o próximo fim de semana.
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“Em contraste, Israel indicou, ainda no ano passado, um diplomata de carreira para assumir a representação no Brasil. Até o momento, o Itamaraty sequer respondeu à indicação, num gesto de desprezo e desrespeito que aprofunda o afastamento entre os países”, disse a Federação Israelita, em nota.
Para a entidade, “acelerar o envio de um representante ao Irã, ao passo que se esvazia simbolicamente a presença diplomática em Israel, é um sinal grave de desequilíbrio e uma ruptura com a tradição diplomática brasileira”.
“É inaceitável que o governo brasileiro se feche ao diálogo com Israel, ao mesmo tempo em que estreita laços com um regime reconhecido por sua retórica de ódio, repressão às minorias e incentivo ao extremismo”, diz o comunicado.
No último dia 13, Israel lançou a “Operação Leão Ascendente” contra o Irã sob a alegação de que o regime dos aiatolás estava muito perto de obter uma arma nuclear. Os Estados Unidos entraram no conflito e bombardearam as usinas nucleares de Fordow, Natanz e Esfahan no último sábado (21).
O Itamaraty condenou os ataques, apontando que os EUA e Israel violaram a soberania do Irã. Nesta segunda-feira (23), o presidente americano, Donald Trump, anunciou um cessar-fogo entre os países após 12 dias de conflito.
A Federação Israelita considera que a decisão do Brasil em antecipar a ida do embaixador “não se trata de política externa, mas de uma escolha ideológica equivocada, que contribui para o afastamento do Brasil de valores democráticos e da estabilidade regional”.
“A comunidade judaica brasileira, que vive em paz e contribui ativamente para a construção do nosso país, se sente profundamente ofendida e ameaçada por essas atitudes, que flertam com o antissemitismo ao ignorar o sofrimento do povo judeu e deturpar a realidade para demonizar o Estado de Israel”, afirmou a entidade.
Veja a íntegra da nota da Federação Israelita
“A Federação Israelita do Estado de São Paulo manifesta profunda preocupação e repúdio diante da decisão do governo brasileiro de antecipar a posse do novo embaixador do Brasil no Irã, em plena escalada do conflito envolvendo aquele país, Israel e os Estados Unidos.
A medida ocorre no mesmo momento em que o posto de embaixador brasileiro em Israel segue vago, desde a remoção deliberada do embaixador Frederico Meyer em maio de 2024, sem qualquer nomeação de substituto até hoje. Em contraste, Israel indicou, ainda no ano passado, um diplomata de carreira para assumir a representação no Brasil. Até o momento, o Itamaraty sequer respondeu à indicação, num gesto de desprezo e desrespeito que aprofunda o afastamento entre os países.
Tal postura representa uma clara desvalorização das relações históricas e diplomáticas entre Brasil e Israel, relações essas marcadas por uma trajetória de amizade, cooperação e respeito mútuo, iniciada ainda em 1947, com a memorável atuação do diplomata brasileiro Oswaldo Aranha na aprovação da partilha da Palestina na ONU.
A escolha de acelerar o envio de um representante ao Irã, ao passo que se esvazia simbolicamente a presença diplomática em Israel, é um sinal grave de desequilíbrio e uma ruptura com a tradição diplomática brasileira de busca por equilíbrio, diálogo e moderação, valores fundamentais para qualquer país que almeje protagonismo e papel mediador em questões internacionais.
Além de diplomaticamente irresponsável, a medida revela uma lamentável insensibilidade com o momento delicado vivido por milhares de famílias israelenses, incluindo reféns ainda em poder do Hamas, que enfrentam torturas e condições desumanas desde 7 de outubro. É inaceitável que o governo brasileiro se feche ao diálogo com Israel, ao mesmo tempo em que estreita laços com um regime reconhecido por sua retórica de ódio, repressão às minorias e incentivo ao extremismo.
Não se trata de política externa, mas de uma escolha ideológica equivocada, que contribui para o afastamento do Brasil de valores democráticos e da estabilidade regional. A comunidade judaica brasileira, que vive em paz e contribui ativamente para a construção do nosso país, se sente profundamente ofendida e ameaçada por essas atitudes, que flertam com o antissemitismo ao ignorar o sofrimento do povo judeu e deturpar a realidade para demonizar o Estado de Israel.
O Brasil precisa urgentemente retomar o caminho da responsabilidade diplomática, da moderação e do respeito mútuo. O momento exige pontes, não muros. Exige empatia, não provocações. Exige escuta, e não discursos que alimentam ódio e divisão. Reafirmamos nosso compromisso com a paz, com os valores democráticos e com a verdade, e esperamos que o governo brasileiro tenha a coragem de ouvir e corrigir esse grave erro.”
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