receio de STF prender membros da direita

Últimas atualizações em 23/06/2025 – 21:34 Por Gazeta do Povo | Feed


O indiciamento do vereador Carlos Bolsonaro (PL-RJ) se soma a uma série de decisões judiciais contra possíveis candidatos da direita ao Senado Federal em 2026. Assim como o vereador, o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o ex-ministro do Turismo Gilson Machado Neto estão com as pré-candidaturas ameaçadas por eventuais prisões que possam ocorrer no futuro. 

Uma das principais estratégias da oposição para as eleições de 2026 é fazer maioria no Senado para se contrapor a ações do Supremo Tribunal Federal (STF) consideradas abusivas e pautar pedidos de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes e, eventulmente, outros magistrados.

A reportagem apurou com membros da oposição que há um temor de que os atuais processos pudessem ser uma tentativa do STF de inviabilizar o plano. Não há, porém, qualquer evidência concreta de que as ações do Supremo tenham relação com as eleições de 2026.

Na terça-feira (17), a Polícia Federal (PF) indiciou Carlos Bolsonaro por suposto envolvimento no esquema que ficou conhecido como “Abin paralela”. Fontes a par da investigação afirmaram à Gazeta do Povo que foram descobertas evidências de que a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) teria sido utilizada para supostas perseguições e monitoramentos indevidos.

A operação ocorreu após o vereador ser aventado como possível candidato ao Senado por Santa Catarina. No caso de Gilson Machado, o ex-ministro do Turismo cogitava disputar o Senado por Pernambuco, mas o cenário ficou incerto após sua prisão. Ele foi preso na última sexta-feira (13) por suspeita de tentar obter um passaporte português para o tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL). No final do mesmo dia, ele foi solto – após decisão de Moraes. 

Já Eduardo Bolsonaro, possível candidato ao Senado por São Paulo, é investigado pelo STF por supostamente atuar nos Estados Unidos contra o Judiciário brasileiro. O parlamentar se licenciou do cargo de deputado federal em março e atualmente mora no país chefiado por Donald Trump. 

Perseguição pode unir a oposição e fortalecer direita em 2026

Apesar de reconhecer que há uma tentativa de enfraquecer a direita por meio de investigações contra aliados de Jair Bolsonaro, o cientista político Adriano Cerqueira, professor do Ibmec de Belo Horizonte, avalia que a estratégia pode sair pela culatra. Para ele, o uso político do Judiciário, especialmente pelo STF, tem atingido um limite e pode catalisar uma reorganização da oposição em torno de Bolsonaro e dos seus indicados.

“Com certeza a intenção desse grupo político PT-STF é prejudicar, sim, os nomes fortes ligados a Bolsonaro no ano que vem, tentar desestabilizar o apoio de Bolsonaro, gerar um temor por parte de candidatos que vão atrás do apoio dele”, afirmou.

No entanto, Cerqueira vê um desgaste crescente do ministro Alexandre de Moraes e do próprio governo Lula, o que reduziria o impacto dessas ações judiciais. “Está se esgotando a capacidade de pressão e atemorização de Alexandre de Moraes”, disse. 

Para ele, a crise de apoio internacional ao governo petista e a atuação de Lula em foros como o G7 reforçam esse cenário: “A atuação do Lula no G7, totalmente isolado, quase um palhaço mesmo, tentando fazer gracinha num momento crítico… O G7 dando declaração total de apoio a Israel, deixando caracterizada a política externa do petismo como desfocada.”

Expoentes e parlamentares da direita estão na mira da Justiça 

Nos últimos meses, diversos expoentes da direita brasileira passaram a enfrentar investigações, ações judiciais e condenações que colocam em xeque suas trajetórias políticas.

O influenciador digital e empresário Pablo Marçal (PRTB), que disputou a prefeitura de São Paulo em 2024, também foi condenado à inelegibilidade por oito anos. A decisão, proferida pela Justiça Eleitoral paulista, aponta abuso de poder político e econômico, uso indevido dos meios de comunicação e captação ilícita de recursos. 

Além disso, Marçal responde criminalmente por colocar em risco a vida de 32 pessoas durante uma expedição ao Pico dos Marins, em 2022, quando liderou um grupo sem preparo técnico adequado, resultando em uma operação de resgate de grande porte.

O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), por sua vez, foi condenado ao pagamento de R$ 200 mil por dano moral coletivo. A sentença decorre de um episódio ocorrido no plenário da Câmara dos Deputados, em 2023, quando o parlamentar usou uma peruca e fez declarações que geraram reação de movimentos sociais e entidades de direitos humanos.

Outro nome de destaque que enfrenta complicações judiciais é o deputado federal Carlos Jordy (PL-RJ). O Ministério Público Eleitoral pediu a inelegibilidade dele por oito anos, acusando-o de abuso dos meios de comunicação durante a campanha pela prefeitura de Niterói (RJ) em 2024.

Segundo a Procuradoria Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, Jordy teria utilizado um jornal para atacar seu adversário político, Rodrigo Neves, em benefício próprio. O caso está em análise no Tribunal Regional Eleitoral do Rio.

Já o ex-diretor da Abin e deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) tornou-se réu no STF por sua suposta participação em uma organização criminosa que supostamente teria atuado para tentar reverter o resultado das eleições de 2022. Ele é acusado de integrar o núcleo que teria planejado um suposto golpe de Estado. Além disso, ele foi indiciado junto com Carlos Bolsonaro pelo caso da Abin paralela.

Por fim, o deputado Gustavo Gayer (PL-GO) enfrenta uma queixa-crime no STF por injúria e difamação contra Gleisi Hoffmann, ministra das Relações Institucionais. Depois da nomeação de Gleisi como ministra responsável pela articulação do governo Lula com o Congresso Nacional, Gayer publicou em seu perfil no X que Lula ofereceu a ministra aos presidentes da Câmara e do Senado “como um cafetão oferece sua funcionária em uma negociação entre gangues”.

Investidas judiciais não mudam opinião pública e fortalecem discurso de perseguição

Na avaliação do cientista político Elton Gomes, professor da Universidade Federal do Piauí (UFPI), as ações judiciais contra aliados de Jair Bolsonaro têm como objetivo principal minar o projeto político da direita no Congresso, especialmente no Senado, onde se decidem temas centrais da estabilidade institucional do país. No entanto, segundo ele, a estratégia não tem surtido o efeito desejado.

“De fato, essa é uma ação jurídico-política que visa restringir as capacidades do grupo político do ex-presidente Bolsonaro, atingindo, sobretudo, figuras viáveis para as candidaturas ao Senado Federal”, disse Gomes. 

“O PL e o grupo político de Bolsonaro estavam colocando o Senado como alvo para sua articulação mais substancial, justamente por conta da importância que essa Casa tem para obstar essa aliança circunstancial entre a Suprema Corte e o PT.”

Apesar da pressão institucional, o cientista político avalia que a ofensiva não conseguiu mudar a opinião pública contra Bolsonaro e seus aliados.

 “O grande objetivo desse consórcio PT-STF era conseguir virar a opinião pública contra o ex-presidente e seus assessores. O que acabou não acontecendo”, afirmou. “A narrativa de perseguição ficou estabelecida. Ficou claro que era um processo direcionado, que o rito jurídico não estava sendo respeitado, com o deliberado propósito de condenar o ex-presidente e seus aliados”, avaliou.

Mas, apesar da popularidade dos possíveis candidatos não ter sido afetada, há a possibilidade de que eles sejam impedidos de disputar as eleições por decisão do STF.

Gomes diz acreditar que, ao menos no cenário internacional, o desgatse do governo Lula pode inibir eventuais ações jurídicas mais contundentes. 

“É um governo que está sem apoio popular, está na mira dos Estados Unidos para sanções, está sem capacidade de comunicação com o seu público. Segmentos historicamente identificados com o PT estão abandonando o lulopetismo”, ressaltou.

Impacto eleitoral das investigações ainda é incerto e dependerá da narrativa

As investigações envolvendo aliados de Jair Bolsonaro têm potencial de repercussão política, mas o efeito direto sobre as eleições de 2026 ainda é imprevisível, segundo Juan Carlos Arruda, CEO do Ranking dos Políticos. Para ele, o desfecho vai depender tanto do avanço dos processos quanto da forma como a direita reagirá publicamente.

“As investigações envolvendo figuras ligadas a Bolsonaro certamente têm potencial de repercussão política, mas o impacto eleitoral direto ainda é incerto”, afirmou. “Tudo vai depender da velocidade e da gravidade das apurações, bem como da forma como esses nomes — e a própria direita — conseguirem reagir na narrativa pública.”

Arruda lembra que o ex-presidente ainda possui força eleitoral significativa. “Bolsonaro segue com capilaridade eleitoral considerável, especialmente no Senado, onde nomes mais alinhados à direita têm conquistado espaços relevantes nos últimos ciclos”, avaliou. 

Ainda assim, ele reconhece que decisões judiciais podem enfraquecer candidaturas ligadas ao núcleo duro de Bolsonaro: “Se essas investigações avançarem e culminarem em decisões judiciais, pode haver um enfraquecimento momentâneo das candidaturas mais próximas ao ex-presidente.”

Ao mesmo tempo, o analista aponta que esse movimento pode ter o efeito oposto e alimentar a retórica de perseguição política, já explorada pela direita. “Também é possível — e não seria inédito — que parte do eleitorado enxergue essas ações como mais um capítulo de uma suposta perseguição institucional à direita”, disse. “Isso tende a reforçar o discurso de ‘luta contra o sistema’ que já é mobilizado há anos por esse campo político.”

Na visão dele, o saldo final dependerá de três variáveis centrais: “O estágio das investigações até 2026, o perfil dos candidatos que a direita decidirá lançar, e a capacidade de articulação de uma narrativa consistente diante do eleitorado.”

Gazeta do Povo
Sob a licença da Creative Commons (CC) Feed


Descubra mais sobre Grupo de Notícias Internacionais

Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.

Gazeta do Povo | Feed

A Gazeta do Povo é um jornal sediado em Curitiba, Paraná, e é considerado o maior e mais antigo jornal do estado. Apesar de ter cessado a publicação diária em formato impresso em 2017, o jornal mantém suas notícias diárias online e semanalmente em formato impresso. O jornal é publicado pela Editora Gazeta do Povo S.A., pertencente ao Grupo Paranaense de Comunicação (GRPCOM).

error: CONTEÚDO PROTEGIDO

Descubra mais sobre Grupo de Notícias Internacionais

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading


AJWS   ThemeGrill   Wordpress   Cloudflare   Wordfence   Wordfence