Lula corre contra o relógio para reverter impopularidade

Últimas atualizações em 22/06/2025 – 22:17 Por Gazeta do Povo | Feed

Faltando um ano e quatro meses para as eleições de 2026, Lula se vê pressionado pela soma de fatores adversos: aperto fiscal, atrito com o Congresso, ruídos na política externa e desgaste com o escândalo do INSS. Segundo analistas ouvidos pela Gazeta do Povo, a busca de Lula pelo hipotético quarto mandato ficou ainda mais difícil nas últimas semanas diante da descoberta de desvios na renda de aposentados do INSS, gafes no exterior e o anúncio de mais impostos.

Além disso, as dificuldades na política econômica com o objetivo de apressar medidas eleitoreiras se juntaram às denúncias de corrupção e a episódios negativos nas viagens à China e à Rússia.

Todo esse cenário fez ruir a expectativa de Lula de melhora da avaliação. A nova onda de pesquisas mostrou o aumento na reprovação do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e evidenciou a piora de sua popularidade justamente em um momento crucial da estratégia para a tentativa de reeleição.

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Lula tem pouco tempo para evitar que reprovação elevada se consolide

Para o cientista político Ismael Almeida, o governo tem pouco tempo para sanar seus prejuízos de imagem – e nenhuma margem para erro. “O relógio político está correndo, e o eleitorado está atento a tudo”, destaca.

“Se a reprovação se cristalizar acima dos 40% até o início de 2026, Lula não enfrentará só dificuldades eleitorais. Ele também pode ver a fortalecimento da oposição de centro e direita, que já se articula para sua sucessão”, alerta.

Almeida avalia que pesquisas revelam desgaste, mas também esgotamento da esperança que muitos eleitores depositaram na volta do petista ao Planalto. Na avaliação do cientista político, o tempo que Lula tem para reverter esse cenário é curto.

Até o início de 2026, o presidente precisa apresentar resultados concretos na economia e na vida das pessoas. “É consenso que ações de governo precisam de ao menos seis meses para produzir efeitos visíveis”, afirma.

Além disso, Lula ainda enfrenta dificuldades em se reconectar com públicos estratégicos, como evangélicos, trabalhadores informais e parte da nova classe média. As medidas adotadas nesse sentido foram insuficientes.

Efeito de medidas populistas foi anulado pela corrupção e aumento de impostos

Pesquisa Datafolha divulgada em 12 de junho informa que a rejeição do governo subiu de 38% para 40%, reforçando o cenário preocupante para Lula, que tenta conter a perda de apoio às vésperas do ciclo pré-eleitoral.

Os detalhes do levantamento mostram que, apesar de ações populistas adotadas, o governo ainda enfrenta forte desgaste diante da percepção de ineficiência na economia, de aumento da violência e de mais corrupção.

O resultado encerra a leve recuperação da imagem de Lula, que chegou em fevereiro à sua maior reprovação: 41%. A pesquisa ouviu 2.004 eleitores entre 10 e 11 de junho, com margem de erro de dois pontos percentuais.

As fraudes em descontos indevidos em benefícios do INSS ganharam mais repercussão após a revelação de que uma das entidades envolvidas tem um irmão de Lula como vice-presidente. O governo teve de tentar conter danos.

A tentativa de aumento do IOF gerou, por sua vez, protesto do Congresso e da sociedade, reforçando a imagem de governo que só recorre ao aumento da carga tributária para fechar suas contas, mesmo arriscando a economia.

Lula lidera rejeição entre presidenciáveis, com aversão de 61% dos evangélicos

Segundo outra pesquisa Datafolha, divulgada no sábado (14), Lula (46%) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (43%) lideram o índice de rejeição entre os possíveis candidatos à Presidência em 2026, com empate técnico dentro da margem de erro.

Os familiares de Bolsonaro também registram rejeição igual ou superior a 30%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), aparece com 29%, seguido pelos governadores Ratinho Jr. (19%), Romeu Zema (18%), Ronaldo Caiado (15%) e Tarcísio de Freitas (15%).

Lula tem menor rejeição entre os mais pobres (39%) e no Nordeste (31%), mas ultrapassa 50% nas demais regiões. Já Bolsonaro é mais rejeitado no Nordeste (53%), mas tem desempenho melhor no Sul (29%) e Centro-Oeste/Norte (37%).

Entre evangélicos, 61% rejeitam Lula e só 25% Bolsonaro; entre católicos, os índices são 41% e 47%, respectivamente.

O Datafolha entrevistou 2.004 eleitores em 136 cidades entre 10 e 11 de junho. A margem de erro é variável de acordo com a região e o segmento populacional. No entanto, a margem de erro para o total da amostra, segundo o instituto, é de dois pontos porcentuais para mais ou menos.

Constrangimentos diplomáticos na China e na Rússia geraram desgaste

Falhas de protocolo e falas desconexas na viagem à China constrangeram e a visita ao ditador russo Vladimir Putin, em meio à guerra na Ucrânia e sanções ocidentais, foi vista como alinhamento imprudente e inoportuno.

Leonardo Barreto, diretor da Think Policy, vê ainda riscos à popularidade de Lula com a guerra entre Israel e Irã. “Choques nos preços do petróleo sempre são acompanhadas de potenciais crises políticas no Brasil”, diz.

Apesar do discurso democrático, Lula se reuniu com ao menos 20 líderes autoritários desde o início de seu terceiro mandato. Entre eles estão Xi Jinping (China), Miguel Díaz-Canel (Cuba), Nicolás Maduro (Venezuela) e Vladimir Putin (Rússia).

A visita à Rússia em 2025, mesmo com mandado de prisão internacional contra Putin, e a aproximação com regimes como o chinês — inclusive para debater regulação de redes sociais — geraram críticas por sinalizarem alinhamento ideológico e desconsiderarem violações de direitos humanos.

Especialista vê Lula ainda competitivo até definição de adversário da direita

Leonardo Gabiati, da consultoria Dominium, vê Lula competitivo para 2026, apesar da reprovação recorde, enquanto houver indefinição do rival, que surgirá do acerto entre o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e seus familiares ou governadores.

“A força de Lula deverá minguar com a retirada de candidatos da oposição e, sobretudo, se convergirem para alguém de centro-direita. E a reação do governo depende de ações concretas para ressarcir aposentados”, aposta.

Não por acaso, o governo pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) na semana passada a suspensão de todas as ações judiciais que culpam o INSS e a União pelas fraudes, alegando risco de divergências e sobrecarga da autarquia.

Por outro lado, o governo também solicitou autorização ao STF para abrir crédito extraordinário, fora do limite do arcabouço fiscal, de modo a garantir recursos para ressarcir beneficiários, de pelo menos R$ 2 bilhões.

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