Zema mira candidatura em 2026 com ida a El Salvador
Últimas atualizações em 11/06/2025 – 15:45 Por Gazeta do Povo | Feed
Foi com postura de estadista que o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo-MG), desembarcou em El Salvador no fim de maio para visita oficial com uma comitiva que incluía os secretários de Comunicação Social, Bernardo Santos, e de Justiça e Segurança Pública, Rogério Greco, entre outros.
Apesar de não conseguir um encontro (e uma foto) com Nayib Bukele — presidente linha dura sob o qual os índices de criminalidade do país da América Central despencaram em poucos anos, levando sua aprovação para a casa dos 80% dentre a população local — o governador mineiro cumpriu extensa agenda e reuniu-se com o vice-presidente Félix Ulloa, participou de atividades na Casa Legislativa, reuniu-se com autoridades, empresários e falou com a imprensa local.
Na volta, mal chegou ao Brasil e disse, em longa entrevista ao jornal Folha de S. Paulo publicada na última quarta-feira (4), que começa a percorrer o país e que, se for eleito presidente no ano que vem, compromete-se com um indulto ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL-SP), caso ele venha a ser condenado no Supremo Tribunal Federal (STF) no processo por tentativa de golpe de Estado. “Não foram concedidos indultos a assassinos e sequestradores aqui, durante o que eles chamam de ditadura? Agora você não vai conceder?”, respondeu sobre o assunto. “Sim, daria”, acrescentou Zema.
Em meio às movimentações de diversos governadores de oposição em direção a uma pré-candidatura ao Palácio do Planalto em 2026, faltava a Zema colocar seu projeto presidencial na rua. Foi o que aconteceu ao longo das últimas semanas. O mineiro deixou a discrição de lado e é mais um nome no campo da direita que passa a oferecer abertamente o próprio nome para enfrentar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT-SP), que deve buscar a reeleição.
“Fico satisfeito de ver que a direita tem várias opções e, quanto mais opções, mais chances, diferentemente da esquerda”, afirma o governador mineiro. “Continuo confiante de que o presidente Bolsonaro possa ter os seus direitos políticos reconquistados e venha a ser o candidato. Se ele for, com toda certeza a direita vai trabalhar unida em torno do nome dele”, diz com cuidado sobre a própria candidatura.
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El Salvador tornou-se um caso de sucesso no que diz respeito ao controle do crime organizado e da violência urbana. De acordo com o governo local, os índices gerais de violência caíram até 98% no governo de Bukele. Em 2024, o índice de homicídios de El Salvador foi de 1,9 a cada 100 mil habitantes, o menor da América Latina. Para isso, Bukele instituiu um regime de exceção com prisões em massa e julgamentos sumários.
“El Salvador, que era o país mais violento da América Latina, hoje é o mais seguro das Américas. Superou até o Canadá”, destacou o governador mineiro após a viagem. Zema minimizou as acusações de autoritarismo e violações de direitos humanos contra Bukele, feitas por diversas organizações internacionais. Para ele, “se havia desrespeito aos direitos humanos, era antes”, quando a população vivia sob constante ameaça das gangues.
Apesar das polêmicas em torno do regime salvadorenho, Zema classificou o modelo como “plenamente viável” para o Brasil, considerando o porte das forças de segurança brasileiras. “O Brasil tem estrutura. O que falta é vontade política.”
Em busca de uma bandeira para sua possível campanha e no comando do segundo maior colégio eleitoral do país, Zema não escolheu ir a El Salvador para falar de segurança pública por acaso. Pesquisa Quaest divulgada no mês passado mostra que a violência se tornou a maior preocupação dos brasileiros, na frente da economia, questões sociais, corrupção, saúde e educação.
Outro motivo é que segundo o Atlas da Violência, divulgado em maio, Minas Gerais tem uma das menores taxas de homicídios em todo o país. Na avaliação do grupo político do governador de Minas Gerais, os números o credenciariam como autoridade na questão da segurança. “Se considerarmos a importância que o tema da violência adquiriu, o Zema faz um movimento interessante no anúncio da sua pré-candidatura e consegue ganhar um destaque que não vinha tendo ultimamente”, afirma o cientista político e professor Elias Tavares.
Na avaliação do cientista político, ao buscar inspiração na linha dura na segurança pública de El Salvador e promessa de indulto a Bolsonaro, elementos que outros nomes da direita ainda não disseram ou fizeram, Zema procura demonstrar para o eleitorado e para o próprio ex-presidente alinhamento total, e que pode ser o legítimo representante do bolsonarismo no ano que vem.
“Apesar disso, não consigo enxergar a viabilidade dessa candidatura presidencial”, diz o professor. “Na pesquisa Quaest, enquanto vários nomes testados chegam ao empate técnico com o presidente Lula em cenários de segundo turno, Zema ainda não faz parte deste grupo. Ele tem que crescer muito nos próximos meses para demonstrar o mínimo de viabilidade”, diz Elias.
Outro impeditivo seria o partido do governador de MG, o Novo. “É uma sigla muito pequena, que não tem dinheiro nem envergadura política para levar uma candidatura presidencial competitiva a cabo. Eles sempre lançam um candidato ali mais para marcar posição”, afirma Elias. Caso a decisão de Zema seja por esse caminho, provavelmente seria um “sacrifício político” do governador para tentar aumentar a bancada do partido no Congresso Nacional.
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A pesquisa Quaest divulgada no último dia 5 coloca o governador de Minas Gerais no páreo presidencial para 2026, mas distante dos outros possíveis representantes do espectro político da direita. Enquanto o governador do Paraná, Ratinho Jr. (PSD), cresce e empata com Lula no segundo turno, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), segue como a opção mais viável da direita para o confronto eleitoral contra o petista.
O governador paranaense teve a preferência de 38% do eleitorado, tecnicamente empatado com Lula com 40% das intenções de voto em cenário de segundo turno. O governador gaúcho Eduardo Leite, que trocou recentemente o PSDB pelo PSD, também passa a fazer parte dos nomes de oposição nos cenários estimulados da Quaest. O governador do Rio Grande do Sul foi citado por 36% dos entrevistados, empatado no limite da margem de erro com o atual presidente.
Tarcísio supera Michelle e Eduardo Bolsonaro, ambos do PL, como principal alternativa do campo da direita à inelegibilidade de Bolsonaro, mostra a pesquisa. No cenário contra o governador paulista, o petista mantém 41% da preferência do eleitor, empatado tecnicamente com Tarcísio, que registrou 40% de intenções de voto.
Já Zema e o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), tiveram o pior desempenho contra Lula no levantamento estimulado do segundo turno para eleições do próximo ano. Segundo a Quaest, o petista tem 42% das intenções de voto contra 33% de preferência do eleitorado ao nome de Zema. O pré-candidato goiano tem o mesmo percentual do mineiro, mas seria derrotado pelo atual presidente, que marcou 43%.
Nesse cenário, Elias enxerga a pré-candidatura presidencial de Zema em 2026 como uma questão de sobrevivência política. “Mal ou bem, ele ganha visibilidade e pontua nas pesquisas. Isso é um capital político que vai ser importante na hora de definir quem vai apoiar, em troca de qual cargo, ou mesmo lançar uma candidatura ao Senado, já que é bem avaliado pelo eleitorado mineiro e tem boas chances de se eleger.”
- Metodologia da pesquisa: a Quaest entrevistou 2.004 pessoas entre os dias 29 de maio e 1º de junho em 120 municípios brasileiros. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com grau de confiança de 95%.
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