Polícia Federal investiga espiões da KGB no Brasil
Investigadores suspeitam que agentes da KGB, trabalhando disfarçados no Brasil durante os últimos anos da União Soviética, possam ter registrado certidões em nome de recém-nascidos fictícios
Últimas atualizações em 22/05/2025 – 09:31 Por Redação GNI
Ao desvendar uma operação de espionagem do Kremlin no Brasil, agentes da Polícia Federal se depararam com um mistério: como tantos espiões russos infiltrados conseguiram obter certidões de nascimento brasileiras aparentemente autênticas? A polícia esperava descobrir se os russos haviam falsificado os documentos ou subornado autoridades municipais para criá-los e inseri-los no cartório como se fossem das décadas de 1980 e 1990.
Mas, quando o laudo pericial foi divulgado em abril, segundo um alto funcionário brasileiro, a análise sugeriu algo completamente diferente. Os documentos não pareciam falsificados. E o mais surpreendente, nem eram novos.
Oficiais de contrainteligência brasileiros agora consideram uma possibilidade mais audaciosa, com ecos da Guerra Fria. Investigadores suspeitam que agentes da KGB, trabalhando disfarçados no Brasil durante os últimos anos da União Soviética, possam ter registrado certidões de nascimento em nome de recém-nascidos fictícios — na esperança de que uma futura geração de espiões um dia os reivindicasse e continuasse a luta contra o Ocidente.
Se for verdade, representaria um nível extraordinário de antecipação e comprometimento com a missão por parte de agentes de inteligência em um período de grande turbulência e imprevisibilidade no mundo. No final da década de 1980, o bloco comunista começou a ruir, juntamente com as divisões ideológicas que definiram a política global — e a missão dos espiões de Moscou — por décadas.
Quase da noite para o dia, a KGB, antes uma força incomparável nos assuntos globais, foi privada de seu propósito central, o conflito com o Ocidente, e logo seria completamente dissolvida. Mas essa visão de futuro se alinharia à cultura da espionagem russa, que, ao contrário do Ocidente, prioriza frequentemente o planejamento criativo de longo prazo em detrimento da conveniência imediata. E em um país singularmente comprometido em colocar agentes em missões secretas, obter certidões de nascimento tem sido uma prioridade há muito tempo.
— É exatamente o tipo de coisa que eles fariam — disse Edward Lucas, autor britânico e especialista nos serviços de inteligência russos. — Isso combina com a atenção meticulosa e geracional que eles dedicam à criação dessas identidades.
No entanto, em entrevistas, especialistas em inteligência e funcionários de diversos serviços de inteligência ocidentais não conseguiram apontar nenhum outro exemplo semelhante na história da espionagem russa. Alguns expressaram ceticismo em relação à hipótese. Até mesmo os próprios investigadores brasileiros ainda não sabem o que fazer com as conclusões de sua análise forense. A investigação continua.
A justiça brasileira ordenou que as certidões de nascimento dos russos suspeitos de atuar como agentes infiltrados sejam mantidas em segredo, de modo que o New York não pôde analisá-las de forma independente.
Por Jane Bradley e Michael Schwirtz, Em The New York Times
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