As árvores marcadas para morrer em São Paulo
"A madeira desta aqui já está podre", ele cutuca com um formão o tronco de uma velha sibipiruna. A poucos metros dali, uma figueira pende perigosamente sobre o asfalto.
Quem anda com o botânico Gregório Ceccantini pelo bairro de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo, logo se acostuma a vê-lo apontar árvores que estão com a “morte anunciada”.
“A madeira desta aqui já está podre”, ele cutuca com um formão o tronco de uma velha sibipiruna. A poucos metros dali, uma figueira pende perigosamente sobre o asfalto.
“Esta jamais deveria ter sido plantada aqui e precisa ser removida com urgência”, afirma Ceccantini.
Em poucos quarteirões, o diagnóstico de risco de morte iminente — da árvore e, não raro, também de algum pedestre ou motorista — se repete várias vezes.
Morador de Pinheiros e professor de botânica na Universidade de São Paulo (USP), com pós-doutorado na Universidade Harvard (EUA), Ceccantini conhece bem as árvores do bairro, mas diz que os problemas de arborização ali se repetem em boa parte de São Paulo — assim como em muitas outras cidades brasileiras.
A BBC News Brasil acompanhou Ceccantini em uma caminhada pela região algumas semanas após uma tempestade provocar a queda de 330 árvores na cidade. Em vários locais, ainda havia galhos nas calçadas, e fios rompidos continuavam presos aos postes.
Naquele temporal, em 12 de março, São Paulo perdeu o equivalente a um décimo de todas as árvores plantadas no município em um mês inteiro.
A Defesa Civil afirmou que, naquele dia, os ventos podem ter chegado a 100 km/h, uma intensidade raramente registrada na cidade.
Na Sé, no Centro de São Paulo, a queda de uma árvore matou o taxista Elton Ferreira de Oliveira, de 43 anos. O carro dele transportava duas passageiras, que sobreviveram.
Cerca de 500 mil moradores ficaram sem luz, e, em muitas casas, o serviço só foi restabelecido dias depois. Outras tempestades nos últimos meses também provocaram quedas de árvores e apagões em diferentes partes da cidade.
Meteorologistas afirmam que a força dos últimos temporais é provavelmente uma consequência das mudanças climáticas — e que a tendência é que eventos climáticos extremos se tornem cada vez mais frequentes.
Ainda assim, Ceccantini diz que os transtornos poderiam ser reduzidos se houvesse mais atenção às árvores da cidade.
Para o botânico, uma série de erros cometidos pelo poder público, pela concessionária de energia e até mesmo por moradores favorece as quedas de árvores.
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